Para:Fapesp; Conep; Frente Parlamentar das Doenças Raras do Congresso Nacional; ANVISA; Ministério da Saúde
Nós, pacientes de ELA e respectivos familiares, cuidadores,
profissionais da saúde, amigos e simpatizantes da causa da luta contra
essa doença, abaixo nomeados, vimos apresentar o presente manifesto,
para expressar nossa vontade. Mais que nossa vontade, necessidade e
direito dos pacientes.
Em 1869, Jean Martin Charcot, o primeiro professor de neurologia
na Salpêtrière, e Joffroy descreveram dois pacientes com Atrofia
Muscular Progressiva com lesões associadas na porção póstero-lateral da
medula nervosa. Eles não deram o nome de Esclerose Lateral Amiotrófica
(ELA) para esta entidade, mas determinaram as características essenciais
para o seu reconhecimento, desde então pouco modificadas¹.
De 1869 até os dias atuais, pouco ou nada se evoluiu em termos de
abordagem terapêutica para que fosse possível conter os terríveis males
dessa doença e sua fulminante evolução.
Eis que, recentemente, foram divulgados excelentes e promissores
resultados em testes clínicos com células-tronco adultas em pacientes de
ELA. Entre eles, especialmente dignos de nota são os casos da
Neuralstem, na Universidade de Emory, nos Estados Unidos, com o paciente
Ted Harada, e da Brainstorm, no hospital Hadassah, em Israel.
Em ambos os testes, conduzidos dentro de estritos padrões
científicos internacionais, os sintomas da ELA regrediram, visível e
inegavelmente. Essa regressão é inédita em qualquer dos tratamentos hoje
disponíveis para nós, pacientes dessa doença terrível.
Sendo essa a primeira esperança concreta de cura ou, ao menos,
melhora; a primeira nesga de luz na escuridão que é a ELA hoje, nos
parece indiscutível a necessidade de se seguir esse caminho,
incrementando as pesquisas com células-tronco adultas também aqui no
Brasil, onde temos cientistas não menos competentes que os do Exterior.
Esse incremento pode se dar independentemente dos trabalhos hoje
realizados com células-tronco embrionárias.
É importante salientar que os estudos mencionados estão avaliando
a segurança e a tolerabilidade do uso de células-tronco adultas em ELA e
estão na etapa final dessa fase (Fase I) Caso se confirmem os
resultados, provavelmente terão inicio os estudos FASE II, onde um maior
número de pacientes poderá ser avaliado. Cremos ser este o momento
exato de se discutir a viabilidade de se fazer um braço desses estudos
FASE II também no Brasil. Em outras palavras: a hora é agora!
Pleiteamos ainda uma maior flexibilização nas hoje excessivamente
rígidas regras relativas à participação em testes clínicos de novas
terapias e ao uso compassivo de drogas experimentais, a exemplo de
discussões que já vêm sendo travadas nos Estados Unidos. É simples
bom-senso: não faz sentido levantar obstáculos baseados em questões de
“segurança” quando pacientes de ELA estão morrendo diariamente. Para
nós, inseguro é conviver com a ELA sem dispor de armas para lutar.
A esse respeito, é oportuno lembrar que Jonathan Emory Glass e
Nick Boulis estão argumentando que o atual sistema de controle está
impedindo o avanço na produção de tratamentos para a Esclerose Lateral
Amiotrófica. Eles afirmam que os órgãos reguladores, como a Food and
Drug Administration, devem deixar que os pacientes assumam riscos
maiores quando a alternativa é a morte iminente. Glass resume: "Isto é
uma emergência. A casa está pegando fogo²".
Entendemos que, como são as nossas vidas que estão em jogo, nós,
pacientes, mais do que ninguém, devemos ser ouvidos quanto ao rumo a ser
tomado nas pesquisas e testes clínicos. Não queremos ser tratados com
condescendência, ainda que carinhosa e bem-intencionada. Queremos deixar
claro que somos perfeitamente capazes de tomar decisões a respeito dos
riscos que queremos assumir ao participar de testes clínicos e ao fazer
uso compassivo de drogas experimentais.
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¹ http://falandosobreela.blogspot.com.br/2012/02/ela-quase-dois-seculos-de-historia.html
² http://falandosobreela.blogspot.com.br/2012/04/casa-esta-pegando-fogo-por-nice-santos.html
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