Onze anos de vida e apenas um mergulho no mar, conseguido a
muito custo, há quatro anos. Essa era a realidade de Jorge Alves da
Silva até domingo, quando ele participou pela primeira vez do projeto
“Praia para todos”, da ONG Instituto Novo Ser, que possibilita pessoas
com deficiência física a entrarem no mar. Em sua quinta edição, o
programa inaugurou no domingo o segundo ponto fixo, desta vez na Praia
de Copacabana, e já arrancou sorrisos do pré-adolescente.
— De
zero a dez, dou nota 20 para o projeto. Gosto muito de praia e quero vir
outras vezes — disse Jorginho, que ficou com sequelas motoras devido a
problemas sofridos na hora do parto.
Moradora de Irajá, Patrícia
de Souza, mãe do menino, soube do projeto no ano passado, numa feira
voltada para pessoas com deficiência. Ao ver o menino de novo no mar,
lembrou de tempos difíceis:
— Há quatro anos, trouxe Jorginho para
ver um desfile da Walt Disney em Copacabana, e quando ele viu o mar
ficou louco. Tentei levá-lo com a cadeira de rodas, mas não consegui, e
ele foi se arrastando até a água. Foi horrível.
Lançado no verão
de 2008/2009 de forma sazonal e itinerante, o “Praia para todos”
conseguiu seu primeiro ponto fixo em 2010, perto do Posto 3 da Praia da
Barra. Naquele mesmo ano, a novela “Viver a vida”, da TV Globo, deu-lhe
visibilidade ao mostrar a protagonista usando a cadeira anfíbia, a
vedete do projeto.
O ponto da Barra funciona aos sábados, das 9h
às 14h, e oferece, além do banho de mar assistido, surfe adaptado,
piscina infantil, vôlei de praia sentado e frescobol. O público varia
entre 20 e 50 assistidos por dia, mais os seus familiares. No ano
passado, o programa atendeu 4.500 pessoas direta e indiretamente.
Em
Copacabana, as tendas ficam na altura da Rua Francisco Sá, perto do
Posto 6, e há rampa concretada de acesso à areia. Entre as atividades
oferecidas aos domingos, das 9h às 14h, estão banho de mar, piscina
infantil, surfe adaptado, handbike e jet-ski. Os organizadores planejam
acrescentar o vôlei de praia sentado e o frescobol ainda este ano. O
trabalho é em parceria com o 3º G-Mar, que cede dez salva-vidas
voluntários.
Organizadores do programa cobram apoio da prefeitura para dar infraestrutura a participantes
Além
de expandirem o projeto “Praia para todos”, que permanece até 8 de
junho, os organizadores cobram mais apoio da prefeitura. Um dos pedidos é
a instalação de uma rampa de concreto no ponto da Barra.
— Já
pedimos várias vezes, mas, até agora, nada. Temos que improvisar para
que as pessoas possam chegar. E isso acontece numa cidade que vai
receber os Jogos Paralímpicos em três anos — reclama o biólogo Ricardo
Gonzalez, idealizador do programa.
A nadadora Danielle Gilson, que participa do projeto desde o início, faz coro e enumera as dificuldades enfrentadas:
—
Você chega a um cinema, e o lugar reservado à pessoa em cadeira de
rodas é o pior possível, na primeira fila. Quando vai ao teatro, tem que
se conformar com o acompanhante em pé ao seu lado ou sentado longe. A
cidade não está preparada.
A falta de uma melhor estrutura acaba
aproximando não só as pessoas com deficiência como os seus parentes.
Enquanto aguardam a hora de entrar no mar nas tendas montadas na areia,
os participantes trocam experiências e agendam encontros pós-praia.
—
Isso vira um clube — resume Fábio Fernandes, um dos organizadores do
projeto. — A convivência aqui é muito harmoniosa. Cada um espera a sua
vez de entrar na água, e muitos saem depois juntos.
Quem está
entrando para o “clube” é Alexandre Lopes, de 42 anos, que sofreu um
acidente de moto há dois. Sem movimento nas pernas desde então, ele só
voltou a entrar no mar no último sábado:
— Foi uma sorte porque um
amigo meu postou uma foto das atividades na sexta-feira. Quando abri,
vi que começariam no dia seguinte e não pensei duas vezes.
Parceiro
do projeto em Copacabana, o tenente-coronel Marcelo Pinheiro,
comandante do 3º G-Mar, quer manter a estrutura montada ao longo do ano
todo, oferecendo aos participantes outras atividades nas areias, como
oficinas diversas.
— Só assim a praia vai se tornar um espaço democrático de verdade — diz ele.
FONTE: O GLOBO
O TEXTO ENCONTRA-SE EM SEU FORMATO ORIGINAL. ERROS GRAMATICAIS E DISTORÇÕES SÃO DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR.
FONTE: O GLOBO
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