Se tem algo que parece ser tabu quando se refere a deficiência auditiva é abordar essa tal de ‘leitura labial’, também chamada de leitura orofacial. Ouço falarem mal dela como se fosse algo fictício ou cheio de falha, algo quase impossível de se fazer.
Olha, longe de mim falar mal de outras formas de comunicação para deficientes auditivos, mas quando perdi a audição, aprendi a ler lábios quase automaticamente (claro que aperfeiçoei com o tempo) e fui da quarta série do primário à faculdade, passando pelo aprendizado de inglês, francês e espanhol somente pela leitura labial. Então, não acho que seja tão complexo quanto pensam. Apenas algumas pessoas têm facilidade para ela e outras não. E, como muita gente tem facilidade com isso, ler lábios é uma excelente maneira de se comunicar usada pelos surdos oralizados.
Leitura labial não é a mesma coisa que ouvir, admito. Mas, também não é nenhum bicho de sete cabeças. A capacidade de adaptação humana impressiona qualquer um que se permita compreender que o corpo humano é a “máquina orgânica” mais adaptável e programada pra sobreviver em qualquer circunstância que existe na face da Terra. Mas, sempre que me perguntavam como era isso de ler os lábios, eu nunca conseguia explicar muito bem. Limitava-me a repetir o que a fonoaudióloga havia me explicado: Lemos a movimentação dos lábios somada à posição da língua.
Certa vez, tive um sonho que eu mesma me explicava como funcionava a leitura labial e hoje é a explicação que dou. Então, voilà: A leitura labial é formada por quatro etapas distintas. Ler lábios não é a mesma coisa que ouvir uma mensagem e interpretá-la no cérebro, porque uma das etapas é a que faz a maior diferença: não é tão imediata. Algumas coisas levam mais tempo para serem compreendidas do que quando se ouve.
Portanto, é comum que quem depende da leitura labial faça algumas pausas momentâneas durante a conversa. Não é que ele seja lento de raciocínio, é que ele demora um pouco mais pra processar o que foi dito. Por isso mesmo que tem gente que diz que não tem paciência de conversar com surdo oralizado, infelizmente. A segunda etapa é o obvio: Simplesmente ler os lábios, observando a posição deles. Como muitos fonemas se parecem, vamos à terceira etapa: compreender a mensagem, pra distinguir os fonemas.
Portanto, é comum que quem depende da leitura labial faça algumas pausas momentâneas durante a conversa. Não é que ele seja lento de raciocínio, é que ele demora um pouco mais pra processar o que foi dito. Por isso mesmo que tem gente que diz que não tem paciência de conversar com surdo oralizado, infelizmente. A segunda etapa é o obvio: Simplesmente ler os lábios, observando a posição deles. Como muitos fonemas se parecem, vamos à terceira etapa: compreender a mensagem, pra distinguir os fonemas.
“Passei a manteiga no pão com a faca” pode ser absolutamente idêntico na leitura labial que “passei a manteiga no mão com a vaga”. Obviamente, a segunda frase não teria o menor sentido, então é automaticamente eliminada. Pra isso, desenvolvemos muito da lógica dedutiva e, de quebra, surdos costumam ser bons em interpretação de mensagens implícitas. E essa eliminação se faz numa velocidade tão rápida, que muitas vezes, a gente nem percebe que faz tal processamento mental. Dada a falta de entonação da voz – que é quase totalmente auditiva – a gente faz pela leitura da expressão facial. Quando mais expressiva é a pessoa, mais clara é a comunicação.
Por outro lado, 100% de leitura labial não existe. Alias, nem 100% de audição, alguma coisa sempre se perde. No caso da leitura labial, isso ocorre com mais frequência. No entanto, na leitura labial, a maior parte do tempo, tenta-se compreender o sentido do que é dito, não cada palavra isolada, porque cansa menos e vai mais rápido. É uma questão de prática e hábito.
Para aprender, você pode treinar consigo mesmo, na frente no espelho, vários fonemas diferentes. E pedir pra alguma pessoa te ajudar também. Fonoterapia também ajuda imensamente. Em caso de dificuldade com algum fonema específico, ela é a pessoa mais adequada pra ajudar no treinamento da leitura labial.
Por fim, a última etapa é que, quanto melhor for o conhecimento no idioma, mais fácil é a leitura labial. Palavras novas podem soar difíceis, porque não temos como fazer a comparação. O jeito é pedir para escrever a palavra e “adicioná-la ao dicionário mental”. Imagine o tamanho do dicionário mental de alguém que faz leitura labial em mais de um idioma, como português, francês e espanhol? Pois é…
Outra coisa, não adianta um surdo oralizado se aborrecer com as pessoas. É preciso reconhecer a própria limitação e pedir pra que elas falem devagar, de frente pra quem lê lábios, repetir quando e quantas vezes forem necessárias. E ainda tem paciência de explicar que quem lê os lábios não faz isso por maldade, mas porque precisa.
Aparelho ajuda sempre, mesmo que não se compreenda o que ouve. Ele não apenas serve como referencia de som (pra saber o volume exato da voz, por exemplo) como exercita a audição residual e ajuda o cérebro a decodificar a informação. Mesma coisa com o Implante Coclear. Mesmo que a pessoa não entenda auditivamente sem apoio da leitura labial, o cérebro usa também o que ouve para processar a informação, unindo ambos.
FONTE: Texto escrito po LAK LOBATO, no portal ACESSIBILIDADE TOTAL
* O TEXTO ENCONTRA-SE EM SEU FORMATO ORIGINAL. ERROS GRAMATICAIS E DISTORÇÕES SÃO DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR.
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