Primeiros livros em braile trazem apresentação de personagens para crianças cegas ou com baixa visão |
A Turma da Mônica acaba de ganhar mais um segmento de leitores. Com o lançamento de uma linha traduzida para o braile, os portadores de deficiência visual estão cada vez mais perto de acompanhar as histórias da turminha. A Editora Globo, em um movimento que visa aumentar a inclusão social, lançou "Oi, Eu Sou a Mônica" e "Oi, Eu Sou o Cebolinha", livros que usam linguagem poética para alcançar o universo de crianças cegas e de baixa visão (que enxergam até três vezes menos que o normal) que estiverem começando a ler. A dupla é o começo de uma série de pelo menos seis lançamentos em braile, que devem sair neste ano.
A adaptação dos livros teve acompanhamento de consultores portadores da deficiência e só foi possível graças à parceria com a Fundação Dorina Nowill para Cegos. A instituição trabalha a inclusão social de jovens e adultos com deficiência visual há quase 60 anos e tem a maior gráfica braile do país. Dorina é fundadora, presidente emérita e engajada na causa há muito tempo, desde que perdeu a visão, aos 17 anos, devido a uma patologia ocular. Ainda jovem, decidiu não deixar os estudos de lado e iniciou uma luta para trazer a literatura braile para o Brasil. O esforço dura até os dias de hoje.
Mauricio de Sousa, criador da Turma, aproveitou a força de Dorina para criar a sua nova personagem, Dorinha, uma menina cega que entrou para a Turma no fim do ano passado e acabou estimulando o lançamento de um outro personagem portador de deficiência, Luca, que transita entre os quadrinhos em uma cadeira de rodas. Mauricio conta que há anos pensava nos personagens e ficou encantado com o universo das crianças cegas. "Estou aprendendo muita coisa, o modo que eles imaginam as cores, como descrevem seus sonhos, tem muita coisa bonita", conta o criador.
Para Dorina, o projeto com a Turma da Mônica é inclusivo porque as crianças cegas poderão conversar sobre o assunto com seus colegas. "A partir do momento em que percebem que o cego pode ler, as crianças passam a encará-lo de maneira diferente. Ele deixa de ser a pessoa que precisa de uma 'ajudinha' e passa a ser um colega igual", diz. "Nós não queremos privilégios, e sim poder usufruir de nossos direitos."
Além dos portadores de deficiência visual, a Turma da Mônica já contemplou também os portadores de deficiência auditiva. O filme Cine Gibi traduziu histórias para a língua de sinais, permitindo que crianças surdas fossem aos cinemas. Uma parte dos livros lançados será vendida ao governo, que costuma comprar quase tudo o que é publicado em braile devido ao alto custo da produção. Mas o restante já está sendo distribuído pelas livrarias e será um dos primeiros livros do gênero à venda de que se tem notícia.
FONTE DA PESQUISA: Revista Época. escrito em 16/05/2005
Fotos: divulgação
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