A gravidez
precoce é uma das ocorrências mais preocupantes relacionadas à
sexualidade da adolescência, com sérias conseqüências para a vida dos
adolescentes envolvidos, de seus filhos que nascerão e de suas famílias.
A
incidência de gravidez na adolescência está crescendo e, nos EUA,
onde existem boas estatísticas, vê-se que de 1975 a 1989 a porcentagem dos
nascimentos de adolescentes grávidas e solteiras aumentou 74,4%. Em 1990, os
partos de mães adolescentes representaram 12,5% de todos os nascimentos no
país.
Lidando
com esses números, estima-se que aos 20 anos, 40% das mulheres brancas e 64% de
mulheres negras terão experimentado ao menos 1 gravidez nos EUA .
No Brasil
a cada ano, cerca de 20% das crianças que nascem são filhas de adolescentes,
número que representa três vezes mais garotas com menos de 15 anos grávidas que
na década de 70, engravidam hoje em dia (Referência). A grande maioria dessas
adolescentes não tem condições financeiras nem emocionais para assumir a
maternidade e, por causa da repressão familiar, muitas delas fogem de casa e
quase todas abandonam os estudos.
A
Pesquisa Nacional em Demografia e Saúde, de 1996, mostrou um dado alarmante;
14% das adolescentes já tinhas pelo menos um filho e as jovens mais pobres
apresentavam fecundidade dez vezes maior. Entre as garotas grávidas atendidas
pelo SUS no período de 1993 a 1998, houve aumento de 31% dos casos de meninas
grávidas entre 10 e 14 anos. Nesses cinco anos, 50 mil adolescentes foram parar
nos hospitais públicos devido a complicações de abortos clandestinos. Quase
três mil na faixa dos 10 a 14 anos.
Segundo
Maria Sylvia de Souza Vitalle e Olga Maria Silvério Amâncio, da UNIFESP, quando
a atividade sexual tem como resultante a gravidez, gera conseqüências tardias e
a longo prazo, tanto para a adolescente quanto para o recém-nascido.
A
adolescente poderá apresentar problemas de crescimento e desenvolvimento,
emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizado, além de
complicações da gravidez e problemas de parto. É por isso que alguns autores
considerem a gravidez na adolescência como sendo uma das
complicações da atividade sexual.
Ainda
segundo essas autoras, o contexto familiar tem uma relação direta com a época
em que se inicia a atividade sexual. As adolescentes que iniciam vida sexual
precocemente ou engravidam nesse período, geralmente vêm de famílias cujas mães
se assemelharam à essa biografia, ou seja, também iniciaram vida sexual precoce
ou engravidaram durante a adolescência.
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O
comportamento sexual do adolescente é classificado de acordo com o grau de
seriedade. Vai desde o "ficar"
até o namorar. "Ficar" é
um tipo de relacionamento íntimo sem compromisso de fidelidade entre os
parceiros. Num ambiente social (festa, barzinho, boate) dois jovens sentem se
atraídos, dançam conversam e resolvem ficar juntos aquela noite. Nessa
relação podem acontecer beijos, abraços, colar de corpos e até uma relação
sexual completa, desde que ambos queiram.
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Esse
relacionamento é inteiramente descompromissado, sendo possível que esses jovens
se encontrem novamente e não aconteça mais nada entre eles de novo .
Em bom
número de vezes o casal começa "ficando"
e evoluem para o namoro. No namoro a fidelidade é considerada muito importante.
O namoro estabelece uma relação verdadeira com um parceiro sexual. Na
puberdade, o interesse sexual coincide com a vontade de namorar e, segundo
pesquisas, esse despertar sexual tem surgido cada vez mais cedo entre os
adolescentes.
O
adolescente, impulsionado pela força de seus instintos, juntamente com a
necessidade de provar a si mesmo sua virilidade e sua independente determinação
em conquistar outra pessoa do sexo oposto, contraria com facilidade as normas
tradicionais da sociedade e os aconselhamentos familiares e começa, avidamente,
o exercício de sua sexualidade.
Há uma
corrente bizarra de pensamento que pretende associar progresso, modernidade,
permissividade e liberalidade, tudo isso em meio à um caldo daquilo que seria
desejável e melhor para o ser humano. Quem porventura ousar se contrapor à esse
esquema, corre o risco de ser rotulado de retrógrado.
As
pessoas de bom senso silenciam diante da ameaça de serem tidas por
preconceituosas, interessando à cultua modernóide desenvolver um cegueira
cultural contra um preconceito ainda maior e que não se percebe; aquele que
aponta contra pessoas cautelosas e sensatas, os chamados "conservadores", uma espécie
acanhada de atravancador do progresso.
As
atitudes das pessoas são, inegavelmente, estimuladas e condicionadas tanto pela
família quanto pela sociedade. E a sociedade tem passado por profundas mudanças
em sua estrutura, inclusive aceitando "goela abaixo" a sexualidade na
adolescência e, conseqüentemente, também a gravidez na adolescência.
Portanto,
à medida em que os tabus, inibições, tradições e comportamentos conservadores
estão diminuindo, a atividade sexual e a gravidez na infância e juventude vai
aumentando.
Adolescência
e Gravidez
A
adolescência implica num período de mudanças físicas e emocionais considerado,
por alguns, um momento de conflitivo ou de crise. Não podemos descrever a
adolescência como simples adaptação às transformações corporais, mas como um
importante período no ciclo existencial da pessoa, uma tomada de posição
social, familiar, sexual e entre o grupo.
A
puberdade, que marca o início da vida reprodutiva da mulher, é caracterizada
pelas mudanças fisiológicas corporais e psicológicas da adolescência. Uma gravidez
na adolescência provocaria mudanças maiores ainda na transformação que
já vinha ocorrendo de forma natural. Neste caso, muitas vezes a adolescente
precisaria de um importante apoio do mundo adulto para saber lidar com esta
nova situação.
Porque a
adolescente fica grávida é uma questão muito incômoda aos pesquisadores. São
boas as palavras de Vitalle & Amâncio (idem), segundo as quais a utilização
de métodos anticoncepcionais não ocorre de modo eficaz na adolescência,
inclusive devido a fatores psicológicos inerentes ao período da adolescência.
A
adolescente nega a possibilidade de engravidar e essa negação é tanto maior
quanto menor a faixa etária.
A
atividade sexual da adolescente é, geralmente, eventual, justificando para
muitas a falta de uso rotineiro de anticoncepcionais. A grande maioria delas
também não assume diante da família a sua sexualidade, nem a posse do
anticoncepcional, que denuncia uma vida sexual ativa.
Assim
sendo, além da falta ou má utilização de meios anticoncepcionais, a gravidez e
o risco de engravidar na adolescente podem estar associados a uma menor
auto-estima, à um funcionamento familiar inadequado, à grande permissividade
falsamente apregoada como desejável à uma família moderna ou à baixa qualidade
de seu tempo livre.
De
qualquer forma, o que parece ser quase consensual entre os pesquisadores, é que
as facilidades de acesso à informação sexual não tem garantido maior proteção
contra doenças sexualmente transmissíveis e nem contra a gravidez nas
adolescentes.
Uma vez
constatada a gravidez, se a família da adolescente for capaz de acolher o novo
fato com harmonia, respeito e colaboração, esta gravidez tem maior
probabilidade de ser levada a termo normalmente e sem grandes transtornos.
Porém,
havendo rejeição, conflitos traumáticos de relacionamento, punições atrozes e
incompreensão, a adolescente poderá sentir-se profundamente só nesta
experiência difícil e desconhecida, poderá correr o risco de procurar abortar,
sair de casa, submeter-se a toda sorte de atitudes que, acredita, “resolverão”
seu problema.
O
bem-estar afetivo da adolescente grávida é muito importante para si própria,
para o desenvolvimento da gravidez e para a vida do bebê. A adolescente
grávida, principalmente a solteira e não planejada, precisa encarar sua
gravidez a partir do valor da vida que nela habita, precisa sentir segurança e
apoio necessários para seu conforto afetivo, precisa dispor bastante de um
diálogo esclarecedor e, finalmente, da presença constante de amor e
solidariedade que a ajude nos altos e baixos emocionais, comuns na gravidez,
até o nascimento de seu bebê.
Mesmo
diante de casamentos ocorridos na adolescência de forma planejada e com
gravidez também planejada, por mais preparado que esteja o casal, a adolescente
não deixará de enfrentar a somatória das mudanças físicas e psíquicas
decorrentes da gravidez e da adolescência.
A gravidez
na adolescência é, portanto, um problema que deve ser levado muito a
sério e não deve ser subestimado, assim como deve ser levado a sério o próprio
processo do parto.
Este pode
ser dificultado por problemas anatômicos e comuns da adolescente, tais como o
tamanho e conformidade da pelve, a elasticidade dos músculos uterinos, os
temores, desinformação e fantasias da mãe ex-criança, além dos importantíssimos
elementos psicológicos e afetivos possivelmente presentes.
Para se
ter idéia das intercorrências emocionais na gravidez de adolescentes, em
trabalho apresentado no III Fórum de Psiquiatria do Interior Paulista, em 2000,
Gislaine Freitas e Neury Botega mostraram que, do total de adolescentes
grávidas estudadas na Secretaria Municipal de Saúde de Piracicaba, foram
encontrados: casos de Ansiedade em 21% delas, assim como 23% de Depressão.
Ansiedade junto com Depressão esteve presente em 10%.
Importantíssima
foi a incidência observada para a ocorrência de ideação suicida, presente 16%
dos casos, mas, não encontraram diferenças nas prevalências de depressão,
ansiedade e ideação suicida entre os diversos trimestres da gravidez. Tentativa
de suicídio ocorreu em 13% e a severidade da ideação suicida associação
significativa com a severidade depressão.
Procurando
conhecer algumas outras características da população de adolescentes grávidas
como estado civil, escolaridade, ocupação, menarca, atividades sexuais, tipo de
parto, número de gestações e realização de pré-natal, Maria Joana Siqueira
refere alguns números interessantes.
Números interessantes da Gravidez
na adolescência
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Porcentagem de grávidas entre 16 e 17 anos
Primigestas(primeira gestação)
Freqüentaram o pré-natal
Tiveram parto normal
Menarca (1a. menstruação) entre os 11 e 12 anos
Não utilizavam nenhum método contraceptivo
Usavam camisinha às vezes
Utilizavam a pílula
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84%
75%
95%
68%
52%
56%
28%
16%
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Em
relação à primeira relação sexual:
A primeira relação sexual ocorreu*:
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até os 13 anos
entre 14 e 16 anos
entre 17 e 18 anos
entre 19 e 25 anos
depois dos 25 anos
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10%
27%
18%
17%
2%
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Ideação
Suicida em Adolescentes Grávidas
Gisleine
Vaz Scavacini de Freitas e Neury José Botega (Unicamp) têm um estudo sobre
ideação de suicídio em adolescentes grávidas. Estudaram 120 adolescentes
grávidas (40 de cada trimestre gestacional), com idades variando entre 14 e 18
anos, atendidas em serviço de pré-natal da Secretaria Municipal de Saúde de
Piracicaba.
Do total
dos sujeitos, foram encontrados: casos de ansiedade em 25 (21 %); casos de
depressão em 28 (23%). Desses, 12 (10%) tinham ansiedade e depressão. Ideação
suicida ocorreu em 19 (16%) das pacientes. Não foram encontradas diferenças nas
prevalências de depressão, ansiedade e ideação suicida nos diversos trimestres
da gravidez.
As
tentativas de suicídio anteriores ocorram em 13% das adolescentes grávidas. A
severidade dessas tentativas de suicídio teve associação significativa com o
grau da depressão, bem como com o estado civil da pacientes (solteira sem
namorado).
Adolescência
e o Parto
A
adolescência é um período de mudanças fisiológicas, psicológicas e sociais que
separam a criança do adulto, prolongando-se dos 10 aos 20 anos incompletos,
segundo os critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), ou dos 12 aos 18 anos
de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente do Brasil.
As piores
complicações do parto tendem a acometer meninas com menos de 15 anos e, serão
piores ainda em menores de 13 anos. A mãe adolescente tem maior morbidade e
mortalidade por complicações da gravidez, do parto e do puerpério. A taxa de
mortalidade é 2 vezes maior que entre gestantes adultas.
A
incidência de recém nascidos de mães adolescentes com baixo peso é duas vezes
maior que em recém nascidos de mães adultas, e a taxa de morte neonatal é 3
vezes maior. Entre adolescentes com 17 anos ou menos, 14% dos nascidos são
prematuros, enquanto entre as mulheres de 25 a 29 anos é de 6%.A mãe
adolescente também apresenta com maior freqüência sintomas depressivos no
pós-parto.
Em 2000,
segundo Raquel Foresti, foram realizados 689 mil partos de adolescentes no
Brasil, o equivalente a 30% do total dos partos do país. Hoje são mais de 700
mil partos de adolescentes por ano. O número é um golpe contra as várias
iniciativas voltadas para a prevenção da gravidez na adolescência.
O que tem
preocupado obstetras em geral, é a possibilidade da gravidez na adolescência
ser considerada "de risco",
com conseqüentes complicações por ocasião do parto. Segundo Marco Aurélio
Galletta e Marcelo Zugaib, a gravidez será considerada de risco quando a
gestante ou o feto estão sujeitos a lesões ou mesmo morte, em decorrência da
gravidez ou puerpério (após o parto).
Segundo
esses autores, a mortalidade materna e peri-natal é maior na gravidez na
adolescência. No Brasil, grande parte das mortes na adolescência estão
relacionadas à complicações da gravidez, parto e puerpério.
Complicações mais freqüentes da gravidez e parto na adolescência são:
|
1-
toxemia gravídica, que é uma doença hipertensiva da gravidez com fortes
possibilidades de convulsões;
2 -
maior índice de cesarianas;
3 -
desproporção céfalo-pélvica, que é uma desproporção entre o tamanho da cabeça
do feto e a pelve da mãe;
4 -
síndromes hemorrágicas, chamada de coagulação vascular disseminada;
5 -
lacerações perineais, envolvendo vagina e, às vezes do ânus;
6 -
amniorrexe prematura, que é ruptura precoce da bolsa e;
7 -
prematuridade fetal.
|
Outros
ainda adicionam: anemia materna, trabalho de parto prolongado, infecções
urogenitais, abortamento, apresentações anômalas, baixo peso da criança ao
nascer, malformações fetais, asfixia peri-natal e icterícia neonatal.
Depois do
parto Anne Lise Scappaticci, psicanalista e autora de pesquisa sobre jovens
mães, concluiu que as adolescentes oferecem mais o seio para amamentação e
estimulam mais os bebês que mães adultas, favorecendo assim uma melhor
interação com a criança.
Essa
pesquisa, entretanto, contradiz boa parte da literatura científica, a qual
sugere maior risco de não atender as necessidades de seus filhos por parte das
mães adolescentes.
A
pesquisa de Anne Lise mostrou que as adolescentes interagiram mais e por mais
tempo com seus bebês em dois, dos seis aspectos analisados: "oferecer o seio" e "estimular o
bebê". Foi considerado estimular o bebê o ato de tocar, acariciar,
afagar, beijar, acalentar e esfregar.
Das
adolescentes, 23,69% estavam no grupo que mais oferecia o seio para o bebê,
enquanto 60,7% das 28 adultas, estavam no grupo que oferecia menos. Quando se
trata do critério "mãe estimula o
bebê", o resultado é igual: novamente as mais jovens estimulavam mais
seus bebês.
Quando o
quesito era estimulação dos recém-nascidos, houve maior freqüência entre as
mães adolescentes. Naquelas cujo bebê era o primeiro filho, 78% acariciavam,
beijavam e embalavam mais a criança. Já as mães adultas, indiferente de ser o
primeiro filho ou não, estimulavam pouco os recém-nascidos.
Aspectos
psicossociais
Inegavelmente
a gravidez precoce e/ou indesejada leva à algum prejuízo no
projeto de vida e, por vezes, na própria vida. Há, concomitantemente, possíveis
outros riscos relacionados ao aborto e à doenças sexualmente transmissíveis
entre as quais AIDS.
As taxas
de gravidez e infecções sexualmente transmissíveis na adolescência são
indicativos da freqüência com que a atividade sexual (desprotegida) ocorre
nessa faixa etária. Talvez possam ser considerados aspectos sociais (talvez,
bio-psíco-sociais) alguns fatores de risco para gravidez na adolescência:
·
antecipação da menarca
·
educação sexual ausente ou inadequada
·
atividade sexual precoce
· desejo
de gravidez
·
dificuldade para práticas anticoncepcionais
·
problemas psicológicos e emocionais
·
mudanças dos valores sociais
·
migração mal sucedida
· pobreza
(?)
· baixa
escolaridade
·
ausência de projeto de vida
As
complicações psicossociais relacionadas à gravidez na adolescência
são, em geral, mais importantes que as complicações físicas. Fatos que devem
ser levado em consideração, inclusive pela equipe que faz o pré-natal seriam,
por exemplo, o abandono do lar dos pais, o abandono pelo pai da criança, a opressão
e discriminação social, a interrupção dos estudos e suas conseqüências futuras,
tais como os empregos menos remunerados, a dependência financeira dos pais por
mais tempo.
Os
casamentos ou co-habitação precoces, motivados exclusivamente pela gravidez,
tem levado a uma maior taxa de separações. Alguns autores afirmam que as uniões
contraídas antes dos 20 anos terminam em separação 3 a 4 vezes mais que nas
uniões contraídas após os 20 anos 2.
Os filhos
de mães adolescentes, segundo Verena Castellani V. Santos, tendem a sofrer mais
a negligência materna, têm maior risco de serem adotados, são internados em
hospitais mais vezes, e sofrem mais acidentes que filhos de mães adultas.
Revela ainda que eles têm um risco aumentado para ter atraso de desenvolvimento,
dificuldades acadêmicas, desordens de comportamento, abuso de drogas, e se
tornarem também pais adolescentes.
A
Gravidez É MESMO indesejada?
Como
entender a garota que tem bom conhecimento da sexualidade, conhece os métodos
anticoncepcionais, tem acesso a eles, não quer engravidar e, apesar disso tudo,
engravida? Que força “do mal” é esta
que, contrária a todas as possibilidades, fez vingar uma gravidez?
Embora
não seja a regra, tem sido comum encontrar adolescentes felizes, depois do
susto do resultado positivo do exame de gravidez, dizendo que a criança é bem
vinda e que, apesar de seu pai ter ficado muito bravo, todos já estão
festejando a vinda do mais novo membro à família.
Na
opinião dessas jovens quase deslumbradas com a gravidez (muitas dissimulando,
como se estivesse muito tristes), a pílula falhou, a tabelinha falhou, a
camisinha rasgou... ou coisas assim mas, de qualquer forma foi alguma coisa
“completamente” acidental, emancipada da vontade dela. Mas, será mesmo que não
havia nenhuma vontadezinha, ainda que inconsciente, de engravidar?
Algumas
adolescentes grávidas, entretanto, continuam dizendo, depois do exame positivo,
que não queriam e não querem ter o filho, que não se vêem criando uma criança.
Estará esta jovem mãe pronta para assumir a função materna?
|
Mas o
drama da gravidez em adolescentes não é monopólio das meninas. E o rapaz?
Afinal, sem sua participação não haveria a concepção. Infelizmente, os
rapazes, principalmente aqueles que apenas “ficam”, dificilmente vão sentir como sendo sua também a
responsabilidade sobre a gravidez.Normalmente os rapazes têm uma visão um
tanto minimizada da gravidez imposta à menina.
|
Afinal,
como pensam, a gravidez só pode ter como conseqüência, uma gigantesca
transformação no corpo (que não é seu), a necessidade de um acompanhamento
pré-natal (que pode muito bem acontecer sem ele), o parto (que também acontece
sem ele estar presente), abandonar os estudos (que também não dizem respeito à
ele), os cuidados com o bebê por alguns poucos seis ou sete anos, e assim por
diante.
Sobre as
razões pelas quais adolescentes engravidam, pesquisadores portugueses
concluíram, por aplicação do método fenomenológico, que a gravidez na
adolescência não é planejada mas pode ser desejada. Constataram ainda
que o uso de contraceptivos é influenciado pela informação e que existem em
muitas jovens expectativas de mudança de vida associada à gravidez (Referência).
Em nosso
meio a questão da gravidez na adolescência continua desafiando
teorias e hipóteses sociológicas. Pesquisa realizada por pesquisadoras da
obstetrícia do Hospital São Paulo mostrou que, apesar de receber informações
sobre métodos anticoncepcionais durante o pré-natal e depois do parto, muitas
adolescentes engravidam por mais de uma vez.
As
pesquisadoras realizaram uma pesquisa com 413 adolescentes atendidas pelo
pré-natal do Hospital São Paulo entre 1996 e 1998. Do total, 159 (38,5%) tinham
menos de 16 anos, e 254 (61,5%) entre 17 e 19 anos. Entre as adolescentes
pesquisadas, 22,5% engravidaram depois de terem recebido orientações sobre
métodos anticoncepcionais e, destas, 79,6% tiveram duas gestações e 20,4% três.
A
conclusão desse trabalho foi que, apesar da orientação sobre métodos
anticoncepcionais, as adolescentes continuam engravidando, "talvez por não terem grandes perspectivas de
vida ou simplesmente por emoção", explica Cristina Guazzelli ,
professora assistente da Obstetrícia. "Entre as adolescentes que tiveram
três gestações, foi comum cada filho ser de um pai diferente, ou seja, em cada
relacionamento, repetiu-se a vontade de ter um filho com o parceiro, analisou a
docente.
As
Emoções da Futura Mãe
|
De modo
geral não se pode dizer que as depressões previamente presentes piorem a
gravidez, obrigatoriamente, pois se observa exatamente o contrário na prática
clínica, algumas mulheres apresentam uma melhora da sintomatologia depressiva
quando se encontram grávidas.
|
Também
não é possível tentar estabelecer alguma regra geral, segundo a qual a gravidez
de adolescentes predispõe ao estado depressivo. E a base destas alterações do
humor para melhor, quando ocorrem, parece estar relacionada à alguma alteração
hormonal.
Sendo a
progesterona é a hormônio dominante da gravidez, pode ser possível que exista
algum benefício se estas mulheres, que melhoram da depressão durante a
gravidez, continuem a tomar progesterona, fora da gravidez.
Se existe
algum período da gravidez onde possa ser observada uma melhor performance
emocional, essa época é entre a 17a. e 20a. semanas de gestação. Isso parece
estar relacionado à produção hormonal pela placenta.
Nessa
fase da gravidez, o sistema endócrino da mulher trabalha ativamente para
promover o crescimento uterino e do bebê. No entanto, passado algum tempo, a
placenta torna-se a principal responsável pela produção hormonal. Este fato
explica, em parte e como vimos acima, as sensações de melhora física, pois, a
produção placentária não tem tantos efeitos secundários quanto a produção
endócrina.
Mesmo
assim, as reações emotivas da grávida tornam-se mais intensas e muitas delas
ficam surpreendidas com sua labilidade emocional, onde até um simples anúncio
televisivo pode fazê-las chorar. Além desses determinantes biológicos e
hormonais, a grávida adolescente teria ainda razões de ordem existencial para
alimentar a extrema labilidade afetiva.
Normalmente,
as pessoas costumam não acreditar serem suficientemente boas, suficientemente
organizadas, suficientemente ricas ou suficientemente suportadas. As
inseguranças, nessas questões de auto-estima, são normais e fisiológicas.
Da mesma
forma, muitas mulheres não acreditam que serão capazes de ser boas mães. Em
algumas adolescente grávida, o infantilismo fisiológico próprio da faixa etária
e prontamente substituído por esse complexo de mãe incompetente.
O
trabalho de parto é receado por muitas adolescentes, sobretudo porque é
amplamente desconhecido. A melhor forma de ultrapassar o medo é falar
abertamente sobre o assunto. A partilha de idéias com outras mulheres que
sentem o mesmo pode ser uma ajuda preciosa.
Durante a
gravidez, a mulher pode sentir dificuldades na concentração ou na articulação de
vocábulos simples. O esquecimento passa também a ser freqüente. Estes fenômenos
podem ser alarmantes, sobretudo para as mulheres que não estão prevenidas. No
entanto, todas estas alterações regridem com o parto.
Geralmente
a adolescente grávida passa a ser rodeada de conselhos, críticas, sugestões e
advertências. Todos parecem ter algo a dizer; alguns amigos querem contribuir
para o crescimento do filho, professores e parentes procedem com críticas
amargas e dissimuladas, familiares mais próximos com veementes censuras... e
assim por diante.
Embora
possa ser agradável receber alguma atenção, muitas vezes pode ser perturbador.
A emotividade subjacente a este período, torna a mulher hipersensível a algumas
sugestões, nomeadamente, no que se refere à sua própria saúde ou à do seu bebê.
Esta é uma boa altura para ignorara conselhos inúteis e para aumentar o próprio
discernimento quanto às opiniões de interesse.
Mas não é
raro que a grávida adolescente experimente algumas sensações de ser especial e
isso pode aliviar a eventual depressão pela qual esteja passando. Quando a
gravidez se torna óbvia e irreversível, a mulher passa a ter um estatuto que
lhe confere alguns privilégios; caixas dos supermercados prioritárias para
grávidas ou de lugares reservados nos transportes públicos, etc.
De acordo
com a pesquisa Raquel Foresti, os depoimentos mostram que as adolescentes que
engravidam apresentam um ponto em comum: a fragilidade no processo de formação
de sua identidade. Algumas delas não conseguiram criar vínculos com o mundo do
trabalho e tiveram vários empregos em um curto período de tempo. Outras não
enxergam perspectivas nos estudos.
Muitas
vezes elas demonstram um comportamento mais infantil do que o esperado para sua
idade e não aceitam as responsabilidades. Por isso, sentem que não encontram
seu espaço no mundo, analisa a psicóloga.
Para
essas meninas, a gravidez tem uma dupla função. “Além de servir como justificativa para a inadequação, a barriga traz certo
poder e até status dentro da família. Preenche o vazio que elas sentem por
causa da crise de identidade”, afirma Raquel.
FONTE: Ballone
GJ - Gravidez na adolescência - in. PsiqWeb, Internet, disponível
em http://http://www.psiqweb.med.br, revisto em 2004.
* O TEXTO ENCONTRA-SE EM SEU FORMATO ORIGINAL. ERROS GRAMATICAIS E DISTORÇÕES SÃO DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR.
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