sexta-feira, 2 de novembro de 2012

INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA OCUPACIONAL NA PSICOSE INFANTIL


Ana Rafaella Chiapeta Bezerra,
Casiana Tertuliano Chalegre,
Daniela Sá Leitão Guimarães,
Diany Ibrahim de Souza Camilo

O presente trabalho tem como principais objetivos a compreensão do papel da terapia ocupacional na psicose infantil, abordar questões relativas a essa patologia desde a sua definição, até a intervenção terapêutica ocupacional. Utilizamos para este fim, inúmeras referências bibliográficas que se destinam a levantar pontos importantes acerca do universo da psicose infantil e a inclusão da terapia ocupacional dentro deste contexto. 

Como produto de nossas pesquisas, dividimos o trabalho em duas grandes partes: a que se dedica à descrição da clínica e a segunda e mais importante, referente à atuação terapêutica ocupacional. 

Para realizá-lo estudamos várias perspectivas teóricas, porém nos centramos na teoria psicanalítica, uma vez que esta oferece uma melhor concepção de sujeito, onde a maior parte dos teóricos seguidores dessa linha acreditam que o bom desenvolvimento psíquico é decorrente da “saudável” relação mãe - bebê e caso isso não ocorra, podem surgir patologias, dentre elas o AUTISMO e a ESQUIZOFRENIA. 

Quanto à terapia ocupacional, foi necessária uma busca mais aprofundada sobre o tema. Com isso foram realizadas consultas com profissionais da área objetivando assim uma visão mais atualizada e prática do conteúdo aqui exposto.

I - INTRODUÇÃO
Durante séculos, as psicoses infantis eram ignoradas e até negadas em sua existência. Seu estudo livre foi impedido por superstições referentes a possessões diabólicas e bruxarias. Algumas destas crianças foram, infelizmente encarceradas em jaulas destinadas a enfermos mentais e, em muitos casos, colocados para fora das cidades. Às vezes, se as abandonava por completo à sua própria sorte.

Os distúrbios mentais em crianças só tardiamente vieram a se converter em objeto de investigação empírica. No que se refere a psicanálise, o trabalho com criança se constitui efetivamente a partir da década de 10, principalmente, no final desta década com os trabalhos de Melaine Klein e de Ana Freud. Um pouco antes houve teórico na Áustria que se interessavam em estudar crianças. Existem vários teóricos que vão se preocupar em estudar crianças como Margareth Mahler uma austríaca que cria noção do psicose simbiótica além de Spitz, Winnicott e teóricos franceses, ingleses, etc. 

Antes da Segunda Guerra Mundial, alguns autores se preocuparam em observar os transtornos psiquiátricos infantis. Pretendia-se encontrar nas crianças os sintomas manifestos pelos adultos. Sante de Sanctis (1905) definiu demência precocissíma; Heller(1906), em cima do modelo da demência precoce e esquizofrenia infantil de Potter (1933) e Lutz (1936) definiu a demência infantil;

Em 1911, E . Bleuler estabelece, a partir da revisão de demência precoce de Kraeplin, o seu próprio conceito, o de esquizofrenia. Para Bleuler, a demência precoce não é sempre precoce nem condiz irremediavelmente à demência. 

A psicose infantil sofreu uma evolução paralela à da demência precoce (Kraeplin) e posteriormente da esquizofrenia (Bleuler). A translação do quadro semiológico adulto ao da criança tropeçou em dois pontos: dificuldade de integrar na criança o conceito de demência que supõe uma organização psíquica prévia suficientemente desenvolvida; a raridade ou ausência, do delírio crônico na criança. Por isso as primeiras descrições de psicose infantil sofreram impasses, pois quanto maior era o rigor na patogenia adulta, menos casos clínicos se encontravam. 

A história recente das psicoses infantis, é marcada pela introdução, em 1943, do autismo de Kanner. Seu trabalho rompe com uma tradição da psiquiatria infantil. Para ele não é suficiente apenas pesquisar na criança o que se encontra no adulto ou estudar esquizofrenia infantil; mas, sim, a partir de um trabalho no qual se pode qualificar de experimental e de enunciar um certo número de traços comuns a estas crianças.

II - DESENVOLVIMENTO NORMAL X PATOLÓGICO : CONSTRUÇÃO DO SUJEITO
A constituição da subjetividade do sujeito, se dá a partir da relação “saudável”, que se estabelece entre a mãe e o bebê. Concepções estas apresentadas por D. W. Winnicott, referindo-se ao desenvolvimento emocional-afetivo da criança. Tendo como referencial o investimento libidinal no relacionamento dual (mãe-bebê). 

De acordo, com Winnicott o bebê em seu primeiro ano de vida, apresenta uma relação visceral com a mãe, sendo esta, considerada por ele, como uma extensão do seu próprio corpo, visto que não houve ainda a divisão do “não-eu” e do “eu” do bebê. Assim, ele tem esta mãe o ambiente ao seu redor, como um prolongamento de seu corpo. Tanto esta mãe, quanto este ambiente, devem ser suficientemente bons, para que haja, de fato, neste bebê, uma formação saudável de sua psique. 

Esta relação materna satisfatória, permite ao bebê entrar no misterioso espaço transitório, que é uma área intermediária de experiências, que não está nem em seu mundo exterior, nem interno à ele, mas sim, em sua capacidade de prolongar a ilusão da presença materna, quando esta se faz ausente, usando-se assim, desta área de ilusão com a finalidade de transferir sua catexia e prolongar um agradável momento anterior. 

Entretanto, vale ressaltar que, se esta mãe não for suficientemente boa, não suprindo satisfatoriamente as necessidades do bebê e caso estas “falhas” não forem corrigidas, estabelece-se na relação mãe-bebê, uma espécie de carência, acarretando para ele uma grande ansiedade e, conseqüentemente, há um comprometimento na constituição de sua subjetividade, devido a esta deficiente relação materna. A abordagem psicanalítica faz referência à construção da subjetividade, sendo isto possível na própria dinâmica familiar que permitirá ou não esse processo. 

A origem dos quadros de psicose infantil estaria na ocorrência de distorções no relacionamento mãe-bebê. Segundo Margareth Mahler parece haver crianças que devido a uma inerente fragilidade do ego desde o estágio de indiferenciação, tornam-se alienadas do meio ambiente. Essas seriam as crianças com “psicose autística infantil”, em que a mãe parece nunca ter sido percebida pela criança, nem como entidade emocionalmente significativa, nem como representante do não-eu. 

Nessas crianças, a mãe permaneceria um objeto parcial que não seria distinto dos objetos inanimados. Nos quadros de psicose simbiótica, o contato com a realidade estaria na dependência de um vínculo simbiótico entre mãe e bebê; em que esta não é percebida como distinta do self, mas se confunde com ele.

III - CONCEITO DE PSICOSE INFANTIL
Na tentativa de conceituar a psicose infantil, em 1960, um grupo de psiquiatras britânicos buscou oferecer critérios para o diagnóstico da psicose em crianças tais como: o relacionamento prejudicado com as pessoas, confusão de identidade pessoal e inconsciência do eu, preocupação anormal com alguns objetos, resistência a mudanças no ambiente, diminuição ou aumento de sensibilidade aos estímulos sensoriais, reação de ansiedade excessiva ou ajuda em resposta à menor mudança, perturbação da linguagem e da fala, perturbações da motilidade (hiper ou hipoatividade), desempenho assimétrico nos testes de inteligência com área de funcionamento normal a superior intercaladas com áreas de atraso no desenvolvimento intelectual.
Em 1970, Ajuriaguerra na 1ª edição do manual de psiquiatria infantil definiu a psicose infantil como um transtorno de personalidade dependente de um transtorno da organização de eu e da relação da criança com o meio ambiente. 

Tradicionalmente os psiquiatras definem o termo psicose como um distúrbio no sentido da realidade. Em contrapartida, numa visão psicodinâmica a psicose seria uma desorganização da personalidade podendo então ser compreendida como uma confusão entre o mundo imaginário e perceptivo na ausência do Ego (Freud), estrutura limitante entre esses dois mundos. 

Características do psicótico infantil:
§ Dificuldades de se afastar da mãe;
§ Problemas na compreensão do que vê;
§ Problema na compreensão dos gestos e da linguagem;
§ Alterações marcantes na forma ou conteúdo do discurso, repetindo imediatamente palavras e/ou frases ouvidas (fala ecolálica), ou utilizando-se de estereotipias verbais e de frases ouvidas anteriormente e empregadas de forma idiossincrática. A inversão pronominal é comum, a criança se refere a ela mesma utilizando-se da terceira pessoa do singular ou do seu nome próprio.
§ Alterações marcantes na produção da fala, com peculiaridades quanto à altura, ritmo e modulação.
§ Habilidades especiais.
§ Conduta socialmente embaraçosa.
§ Negação da passagem da alimentação líquida para sólida ou bulimia indiferenciada incorporando qualquer objeto pela boca.
Ao longo desse trabalho, as definições mais específicas classificadas quanto ao tipo de psicose infantil serão melhor abordadas

IV – INCIDÊNCIA
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Distúrbio Autista é cerca de três vezes mais comum em meninos que em meninas. Em relação a população em geral, é de cinco em cada dez mil pessoas. Para Grunspun (1999), as estimativas epidemiológicas da prevalência da esquizofrenia com início na infância não são precisas e são calculadas na população infantil em torno de 0,04%. A incidência é, em crianças, acima de sete a oito anos de idade e é igual para os dois sexos. 

V - CLASSIFICAÇÃO
Em psicose infantil, a classificação encontra dificuldades devido às divergências de pensamento sobre seu conceito entre os estudiosos. Para superar esses obstáculos, recorre-se a classificações multiaxiais ( CID - 10 e DSM - III ), um sistema baseado num enfoque biopsicosocial e sua etiologia relacionada é puramente descritiva. 

Há algum tempo, as classificações gerais das doenças mentais não mencionavam as psicoses infantis. A primeira vez que a classificação internacional considerou os distúrbios psicopatológicos próprios da criança foi em 1979 (CID 9), propondo os seguintes títulos: Autismo infantil (síndrome de Kanner); Psicose desintegrativa (síndrome de Heller); Psicoses infantis atípicas; essa classificação parece já ultrapassada. 

Os autores da DSM – III (1980) classificam as psicoses da criança sob a denominação “Distúrbios difusos do desenvolvimento”, preferem não utilizar o termo “psicose”, fundamentados nas diferenças semiológicas importantes entre as psicoses do adulto e da criança. Dividem o título em três itens: Autismo infantil; distúrbios difusos do desenvolvimento com início na infância;Distúrbios atípicos do desenvolvimento. 

Na classificação francesa encontramos a diferenciação segundo a idade, que se divide em: Psicoses precoces, onde os sintomas apresentam-se antes dos quatro anos de idade, não oferecendo à criança a possibilidade de adaptação ao meio extrafamiliar; Psicose do período de latência ou Psicose infantil de exteriorização tardia, se manifestam entre os cinco primeiros anos e a puberdade; Psicose da puberdade e da adolescência. 

Apesar dos esforços de psiquiatras infantis e psicanalistas da criança, não há ainda acordo completo entre os especialistas sobre uma classificação única.

VI - TIPOS DE PSICOSE INFANTIL
1. ESQUIZOFRENIA INFANTIL:
De acordo com os critérios diagnósticos da CID – 10, a esquizofrenia está classificada no bloco entre F 20 e F 29, com múltiplos quadros clínicos. 

Para a psiquiatria norte-americana, a esquizofrenia seria uma reação e teria como característica central um estado onde o paciente perderia o sentido da realidade, na acepção psicanalítica de um conflito Ego X realidade. 

A DSM III define – a como um distúrbio mental com uma forte tendência à cronicidade, de início na juventude, quase sempre levando à uma deterioração do funcionamento psíquico pré – mórbido e clinicamente manifestado por uma síndrome psicopatológica que se expressa por distúrbios do pensamento, afetividade e comportamento, na ausência de doença cerebral demonstrável ou retardamento mental. 

Moreira (1986) considera a esquizofrenia uma só, seja afecção na criança ou no adulto resguardando as características peculiares quanto à faixa etária de maior incidência sobre a doença. 

Para ser considerado psicose, Mc Hugh (1977) remete que deve produzir distúrbios na esfera do pensamento e da percepção que não sejam graves para haver distorções entre a realidade circundante e a relação dos fatos que nela ocorrem. 

O termo psicose é usado ocasionalmente, como eufemismo para loucura alguma vezes sinônimo de esquizofrenia (uma das entidades dessa categoria) e em outras ocasiões como depressão psicótica e neurótica. O termo não qualificado pode receber qualificativos pela diferenciação entre psicoses orgânicas e funcionais. 

Psicoses orgânicas: delírio, demência e síndrome de Korsakoff. 

Psicoses funcionais: esquizofrenia, psicose maníaco - depressiva. 

A esquizofrenia é, entre as doenças mentais, a que acarreta mais prejuízos. É um distúrbio do psiquismo e da personalidade, que se manifesta com a consciência lúcida, caracterizado por diversas alterações nas experiências psíquicas nos padrões de pensamento e humor. 

A hereditariedade é um fator etiológico importante pois sabe-se que a sua freqüência é aumentada nos familiares de pacientes. Sendo as chances de desenvolver esquizofrenia maiores, quanto mais próximo for o grau de parentesco com o paciente.

1.1.  Quadro clínico:
1.2.  as características iniciais da esquizofrenia são delírios, alucinações, linguagem e comportamento desorganizados, como sintomas positivos. Apatia marcante, pobreza de discurso, embotamento ou incongruência de respostas emocionais e retraimento social com falta de iniciativa. A sintomatologia é muito parecida à do adulto sendo o início infantil mais grave do que no início adulto. 

Aborda-se a seguir os sintomas essenciais da esquizofrenia infantil:

Ø Distúrbios do conteúdo do pensamento:
As alucinações e delírios são os primeiros aspectos percebidos. São ego sintônicas, ou seja, crianças esquizofrênicas nem sempre vêm como invasivas e estranhas. Lidam bem com os sintomas que lhe parecem naturais porque se iniciam precocemente e de forma insidiosa. O desenvolvimento das alucinações e delírios se torna de maior complexidade com o tempo.

Ø Distúrbios da cognição:
Esquizofrênicos sofrem de um prejuízo leve da cognição. As crianças submetidas a testes psicológicos de inteligência generalizada apresentam um QI abaixo da média ( entre 80 e 90 ). Nas medidas de aspectos específicos da cognição, os prejuízos podem ser graves, e, em outros aspectos, pode haver resultados elevados.

Ø Distúrbios da afetividade:
Observa-se rigidez das disposições afetivas, fixação de certos interesses e ausência ou diminuição da atenção espontânea, inadaptação ao real e a fuga à realidade, acentuada violência nas reações de angústia ou defesa, estereotipias no comportamento, nas ocupações, na linguagem , bem como fenômenos de perseveração e ecolalia. Todos esses fenômenos ocorrem de forma particular à personalidade de cada indivíduo. 

1. AUTISMO:
Segundo a American Society for Autism (ASA), o autismo é uma inadequacidade no desenvolvimento que se manifesta de maneira grave por toda a vida. É incapacitante e aparece tipicamente nos três primeiros anos de vida. 

A definição aceita pela National Society for Autisc Children e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que: “o autismo é uma síndrome presente desde o nascimento e se manifesta invariavelmente antes dos trinta meses de idade. Caracteriza-se por respostas anormais à estímulos auditivos ou visuais, e por problemas graves quanto à compreensão da linguagem falada. A fala custa a aparecer, e, quando isto acontece, nota-se ecolalia, o uso inadequado dos pronomes, estrutura gramatical imatura, inabilidade de usar termos abstratos. 

Há também, em gera, uma incapacidade na utilização social, tanto da linguagem verbal como da corpórea. Ocorrem problemas muito graves de relacionamento social antes dos cinco anos de idade, com incapacidade de desenvolver contato olho a olho, ligação social e jogos em grupos. O comportamento é usualmente ritualístico e podem incluir rotinas de vida anormais, resistência a mudanças, ligação a objetos estranhos, e um padrão de brincar estereotipados. A capacidade para pensamento abstrato- simbólico ou para jogos imaginativos fica diminuída...” 

Conforme o National Society for Autistic Children (NSAC) e a American Psychiatric Association, os sintomas incluem: anormalidade no ritmo de desenvolvimento e na aquisição de habilidades físicas, sociais e de linguagem; respostas anormais dos sentidos. O autista pode Ter uma combinação qualquer dos sentidos (visão, audição, olfato, equilíbrio, dor e paladar); ausência, atraso ou falta de linguagem; modo anormal de relacionamento com pessoas, objetos, lugares ou fatos; 

Existem sintomas específicos observáveis na conduta do modo relacional da criança que podem auxiliar no diagnóstico para Síndrome do Autismo, são eles: não se misturam com outras crianças; age como se fosse surdo; resiste ao aprendizado; não demonstra medo a perigos reais; resista a mudanças de rotina; usa pessoas como ferramentas; risos e movimentos não apropriados; resiste ao contato físico; acentuada hiperatividade física; não mantém contato visual; apego não apropriado a objetos; gira objetos de maneira bizarra e peculiar; às vezes agressivo e destrutivo; modo de comportamento indiferente e arredio.

2.1. Características clínicas:
Ø Incapacidade qualitativa na Interação Social:
- Ignora presença de pessoas e de sentimentos (uso instrumental de pessoas e comportamento invasivo);
- Não busca apoio ou conforto por ocasião do sofrimento quando isto ocorre se dá de modo estereotipado;
- Imitação ausente ou comprometida ;
- Ausência ou deficiência no contato olho a olho.

Ø Incapacidade qualitativa na comunicação verbal e não verbal e na atividade imaginativa:
o Ausência de modo de comunicação, como balbucio comunicativo, expressão facial, mímica ou linguagem falada; ausência de contato visual, retraimento ao contato físico, ausência de antecipação;
o Deficiência na atividade imaginativa, como representação de papéis de adultos, personagens de fantasias ou animais; falta de interesse em estórias sobre acontecimentos imaginários;
o Alterações na linguagem que se estende da anormalidade no uso dos pronomes pessoais até a ecolalia ou até a ausência absoluta da fala;
o Incapacidade marcante na habilidade para iniciar ou sustentar uma conversa com outros e também age como se fosse surdo;
o Opõe-se ao aprendizado.

Ø Repertório restrito de atividades e interesses:
o Estereotipias e repetições (movimentos giratórios, auto-agressão, ausência da noção de perigo);
o Interesses restritos (interesses por objetos rotatórios, interesse em empilhar objetos, exploração do meio pelo paladar e/ou olfato);
o Resistência a mudanças no ambiente;
o Insistência em seguir rotinas (atividade monótona rotineira). 

Através de pesquisas detectou-se que 30% dos autistas têm QI normal ou acima da média; por isso muitos autistas possuem habilidades excelentes, como por exemplo: se saem muito bem em atividades esportivas, em desenhos, pinturas, músicas, e podem até apresentar uma memória invejável, capaz de armazenar a mais remotas reminiscência (memória mecânica).

VII – AVALIAÇÃO
A avaliação de terapia ocupacional possui variáveis que dependem de vários aspectos como grau de comprometimento do paciente e idade com que a criança chega ao serviço. 

Na ocasião da avaliação, é necessária a presença dos pais ou responsáveis por se tratarem de crianças que não possuem autonomia. 

A avaliação deve ser uma constante, especialmente porque, no primeiro contato não é possível estabelecer um vínculo satisfatório, aspecto esse primordial para a observação da criança. 

É indispensável uma colheita de história adequada para se fazer uma correta formulação diagnóstica. O profissional precisa ter conhecimentos adequados e atuais quanto ao desenvolvimento normal e anormal da criança. 

Na avaliação as informações estão baseadas em dados objetivos, que proporcionam indentificação das capacidades para tarefas lúdicas, sociais, perceptivas e motoras e limitações na qual pode-se traçar a proposta de tratamento. 

Segundo Spackman(1998), as crianças com transtornos psiquiátricos apresentam vulnerabilidade no comportamento, afetividade e relacionamento interpessoal, estes aspectos devem ser vistos em primeiro lugar. Estas crianças apresentam déficit na área de destreza, por isso é necessário que realize, também, a avaliação motora e visuomotora. 

Deve-se prestar atenção ao conteúdo, tipo e qualidade das brincadeiras da criança. Muitos psicóticos parecem privados da capacidade de iniciar e organizar suas próprias brincadeiras. É útil perguntar o que faz a criança quando entregue à sua própria iniciativa. Se ela brinca de maneira adequada ou tende a se envolver em atividades repetitivas ou esterotipias motoras.

VIII - TRATAMENTO:
A intervenção terapêutica – ocupacional para com o psicótico infantil objetiva essencialmente a busca de possibilidades que auxiliem esses pacientes a participarem de forma mais consistente em seu meio. 

Diversos aspectos estão envolvidos no processo de tratamento oferecido pela terapia ocupacional, esta deve estar direcionada para as limitações da criança, como incapacidade de abstração, de expressão verbal, na interação social recíproca, etc. 

Existem diversas orientações teóricas que oferecem um suporte às práticas do terapeuta ocupacional: desenvolvimental, comportamento ocupacional, integrativo-sensorial, aquisicional, biomecânica, reabilitativa e psicanalítica. Esta última com uma visão psicodinâmica, na qual a terapia ocupacional enfatiza a relação terapêutica e as atividades como fundamentais no processo de tratamento. Isso é considerado por que é através da comunicação que se estabelece no nível da linguagem do concreto (ação e expressão) e através do vínculo que se estabelece com o paciente que, como argumenta Benneton (1989) pode-se chegar a uma compreensão e intervenção na dinâmica do processo experienciado pelo paciente. 

“... As atividades vistas como possibilidades de manter a realidade externa, isto é, de ampliar o campo da consciência, assim o são por propiciar o auto – conhecimento e conseqüentemente o de fazer – se conhecer. Tal proposta abarca o apreender para aprender, incluindo também o caráter afetivo da aprendizagem na terapia ocupacional” (Benneton, 1989, p. 47). 

A intervenção terapêutica atenta para dois aspectos básicos presentes na realidade e dificuldade da criança psicótica, tanto o lado afetivo/emocional quanto os aspectos cognitivos; de uma forma integrada, através da realização das atividades e da relação que se estabelece. Geralmente, na dinâmica firmada no processo de terapia ocupacional, as interpretações verbais em relação à criança não estão presentes. Todas as compreensões do psicótico pelo terapeuta devem ser dinamizadas de forma contextualizada nas ações que se processam durante o tratamento. 

Para Fernandes (1988), no uso de atividade como proposta reabilitatória, há uma dinâmica particular entre três elementos básicos: terapeuta – atividade – paciente. Existem situações onde a atividade funciona como objeto intermediário entre o terapeuta e o paciente. Em outros, o terapeuta é que funciona como uma ponte entre o paciente e a atividade. 

Um objetivo difícil e ao mesmo tempo básico para o desenvolvimento do tratamento do psicótico em um processo de terapia ocupacional, diz respeito ao estabelecimento da relação terapêutica o qual será o caminho a seguir possibilitando o tratamento em si e dando um grande primeiro passo de sucesso obtido entre a criança e o terapeuta. 

As sessões de terapia ocupacional concedem um reconhecimento recíproco do nível e da forma com que a criança é capaz de se mostrar, através dos materiais que explora, da rotina que se forma , do contato que realiza ou não com o terapeuta, etc. geralmente, a criança psicótica não apresenta habilidades básicas, sendo o seu fazer tão escasso quanto o seu contato com o mundo externo, tornando de fato a formação da relação um investimento especial. O reconhecimento do terapeuta pela criança como lhe for possível, já faz parte das metas do tratamento. 

Outro objetivo a ser enfatizado é a necessidade da compreensão pela criança dos limites e espaços que podem ser utilizados por ela e pelo terapeuta. 

Um terceiro aspecto a ser colocado relaciona-se à procura de aproximação ou chance de uma situação de brincar que precisa ser contextualizado quanto ao que se pensa, ou seja, deve-se considerar as maneiras primárias da brincadeira, percebendo-as como forma de comunicação da criança e expressivas no campo da abstração e simbolização.

IX - RECURSOS TERAPÊUTICOS:
O uso de atividades terapêuticas com pacientes psicóticos tem um valor representativo importante, pois permite a expressão de seus sentimentos e emoções fornecendo dados sobre seus gostos, desgostos e conflitos que muitas vezes não podem ser verbalizados por ele.

É preciso ter em mente os objetivos do tratamento que pretende-se atingir, a partir de um plano sobre quais as áreas precisam ser direcionadas, para que assim possa ser preparado um programa de atividades que sejam desenvolvidas durante as sessões terapêuticas.

Conforme Spackman (1998) as duas metodologias mais utilizadas pela terapia ocupacional no tratamento do autista são a integração sensorial e a terapia comportamental. Considera-se que esse método pode ser utilizado com o psicótico infantil no geral. 

Por se tratarem de crianças, o brincar enquanto recurso terapêutico, é a atividade predominante utilizada nessas sessões de terapia ocupacional. As brincadeiras características dessas crianças tendem a ser pouco variadas e criativas, estas insistem na resistência às mudanças permanecendo em sua maioria, nas brincadeiras de rotina. No entanto o profissional que acompanha deve estar atento ao fato de que, ocorrendo progressões, estas brincadeiras terão de ser modificadas e executadas de forma nova e criativa. 

Os psicóticos também brincam em termos muito concretos, eles têm dificuldades na simbolização(faz de conta) por isto, faz-se necessário que o terapeuta crie situações que possam estimular o envolvimento destes em atividades imaginárias. “ apesar da imaginação ser um elemento básico da recreação típica infantil, ela desenvolve-se apenas depois de a criança dominar um entendimento complexo das propriedades do seu corpo, dos objetos e pessoas”. “ Talvez a terapia para essas crianças precise ser iniciada ajudando-as a sentir-se suficientemente seguras com o seu corpo, a fim de experimentarem com fingimento que ela ou um objeto assume uma função que na realidade não existe.” ( Mailloux e Burke, 2000). 

O uso da fantasia pode ajudar a criança a explorar os sentimentos e as idéias, auxiliar as resoluções dos conflitos e trazer à tona uma mudança cognitiva, além de favorecer a interação social. 

A introdução de temas lúdicos é importante pois pode tornar as atividades desafiadoras mais interessante e pode encorajar o envolvimento com maior duração. 

Os pacientes psicóticos não têm noção de seu próprio esquema corporal, é como se todos as partes de seu corpo estivessem separadas, fragmentadas. A inclusão da expressão corporal no programa de tratamento contribui para que este possa desenvolver sua própria imagem. 

O terapeuta ocupacional desempenha um papel fundamental no direcionamento das atividades de vida diária, visando assim uma melhor autonomia e independência nessas atividades que podem estar comprometidas. Esse profissional também se preocupa com o desenvolvimento dos processos senso-perceptivos infantis. Esses processos influenciam proporcionalmente nas AVD´s, uma vez que estando os aspectos sensórios-perceptivos alterados, essas atividades estarão comprometidas. 

Neste contexto, deve-se direcionar seus objetivos para facilitação e estímulo das capacidades sensoriais (visuais, auditivas, táteis, vestibulares...), proporcionando uma maior interação com o meio ambiente físico. Pode-se utilizar atividades que possibilitem ao psicótico experienciar a complexidade destas percepções. 

Outro aspecto importante a ser trabalhado é promover a interação social com essas crianças. Esses pacientes demonstram problemas no nível social. Apresentam dificuldades na compreensão do outro, ocasionando uma falta de interesse pelas pessoas não mantendo contato afetivo com estas. Para isto, torna-se imprescindível o atendimento grupal, a fim de estimular essa compreensão, e promover a socialização da criança. 

É necessária, portanto, a ajuda familiar nesse processo de acompanhamento durante as sessões terapêuticas seguido de orientações para a continuidade desses estímulos em seu próprio lar.

X. CONCLUSÃO
É fundamental perceber a criança em toda a sua singularidade, captar toda sua especificidade, num programa direcionado a atender as suas necessidades especiais. É a percepção desta singularidade que vai comandar o processo e não um modelo universal de tratamento. 

Através deste trabalho pudemos perceber o quanto terapia ocupacional é necessária para o tratamento do paciente psicótico. De uma maneira geral, é importante que a Terapia Ocupacional coloque a criança psicótica em contato direto com o que ela pode fazer para suprir suas necessidades básicas e essenciais ao seu desenvolvimento, também com o papel de orientar a família de como faze-la realizar ações que favoreçam o seu convívio social, ensinando-lhe também os limites dos quais deve obedecer. 

Encontramos pouca literatura sobre a esquizofrenia infantil assim, achamos necessária uma pesquisa mais aprofundada.


FONTE: Ana Rafaella Chiapeta Bezerra ARC, Chalegre CT, Guimarães DSL, Camilo DIS - Intervenção Terapêutica-Ocupacional na Psicose Infantil, in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/, 2004.



* O TEXTO ENCONTRA-SE EM SEU FORMATO ORIGINAL. ERROS GRAMATICAIS E DISTORÇÕES SÃO DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR.

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