A palavra “cultura” possui vários significados. Relacionando esta palavra ao contexto de pessoas surdas, ela representa identidade porque se pode afirmar que estas possuem uma cultura uma vez que têm uma forma peculiar de apreender o mundo que os identificam como tal.
STOKOE, um lingüista americano, e seu grupo de pesquisa, em 1965, na célebre obra A Dictionary of American Sign Language on Linguistic Principles, foram os primeiro estudiosos a falar sobre as características sociais e culturas dos surdos.
A lingüista surda Carol Padden estabeleceu uma diferença entre cultura e comunidade. Para ela, “uma cultura é um conjunto de comportamentos aprendidos de um grupo de pessoas que possui sua própria língua, valores, regras de comportamento e tradições”. Ao passo que “uma comunidade é um sistema social geral, no qual pessoas vivem juntas, compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outras”. PADDEN (1989:5).
Para esta pesquisadora, “uma Comunidade Surda é um grupo de pessoas que mora em uma localização particular, compartilha as metas comuns de seus membros e, de vários modos, trabalha para alcançar estas metas.” Portanto, nessa Comunidade pode ter também ouvintes e surdos que não são culturalmente Surdos. Já “a Cultura Surda é mais fechada do que a Comunidade Surda. Membros de uma Cultura Surda se comportam como as pessoas Surdas, usam a língua das pessoas de sua comunidade e compartilham das crenças das pessoas surdas entre si e com outras pessoas que não são Surdas.”
Mas ser uma pessoa surda não equivale a dizer que esta faça parte de uma Cultura e de uma Comunidade Surda, porque sendo a maioria dos surdos, 95%, filhos de pais ouvintes, muitos destes não aprendem a LIBRAS e não conhecem as Associações de Surdos, que são as Comunidades Surdas, podendo tornar-se somente pessoas portadoras de deficiência auditiva.
As pessoas Surdas, que estão politicamente atuando para terem seus direitos de cidadania e lingüísticos respeitados, fazem uma distinção entre “Ser Surdo” e ser “Deficiente Auditivo”. A palavra “deficiente”, que não foi escolhida por elas para se denominarem, estigmatiza a pessoa porque a mostra sempre pelo que ela não tem, em relação às outras e, não, o que ela pode ter de diferente e, por isso, acrescentar às outras pessoas.
Ser Surdo é saber que pode falar com mãos e aprender uma língua oral-auditiva através dessa, é conviver com pessoas que, em um universo de barulhos, deparam-se com pessoas que estão percebendo o mundo, principalmente, pela visão, e isso faz com que eles sejam diferentes e não necessariamente deficientes.
A diferença está no modo de apreender o mundo, que gera valores, comportamento comum compartilhado e tradições sócio-interativas, a este modus vivendi está sendo denominado de “Cultura Surda”.
FONTE: LIBRAS em Contexto – Tanya A. Felipe e Myrna S. Monteiro
* O TEXTO ENCONTRA-SE EM SEU FORMATO ORIGINAL E NA GRAMÁTICA ANTIGA.
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