POR: Edner Braga
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a
relação professor-aluno, a partir da análise do filme Mentes Perigosas. Com
base em alguns trechos do filme, vai-se abordando o tema em seus diversos
aspectos: atenção, interesse, motivação, orientação, desenvolvimento,
vinculação e afetividade. Ao considerar-se cada aspecto revela-se como este se
traduz concretamente na relação: sentido de, realidade, formação para a vida
pessoal, construção do conhecimento, mentalidade científica, adaptabilidade, formação
profissional, realização pessoal, espírito de tolerância, participação social,
cidadania e respeito ao ser humano. Conclui-se abordando a importância desta
relação no que se refere a qualidade do processo ensino aprendizagem, pois é a
relação que permite ao educando significar o conteúdo, e que o enfoque nesta
relação se define a partir de uma abordagem humanista e sistêmica da educação.
Considerações
Iniciais
Inicialmente tinham-se como possibilidades de reflexão
sobre Metodologia do Ensino Superior os temas: Profissionalismo; abordagens do
ensino e prática pedagógica; relação professor-aluno; estratégias do ensino e
processo ensino- aprendizagem; e avaliação como retro- alimentação do processo
ensino- aprendizagem. Porém, diante da tarefa de selecionar um dos temas
relacionados para ter como foco das reflexões, optou-se pela relação
professor-aluno.
Tal escolha se fez imperativa a partir da necessidade
pessoal de refletir sobre o tema considerando-se a perspectiva de que a postura
interpessoal do docente constitui-se num importante instrumento facilitador do
processo ensino-aprendizagem e de que esta está vinculada à adoção de uma das
possíveis abordagens do processo de ensino.
O processo da educação constitui-se numa realidade
complexa que não se dá a conhecer de forma única e precisa, justamente por se
determinar na unidade de múltiplos aspectos. Na educação estão presentes as
dimensões humanas, técnica, cognitiva, emocional, sócio política e cultural.
Assim, conforme a abordagem do processo adotado
enfoca-se um ou outro aspecto entre os que determinam o fenômeno da educação.
O conhecimento humano, dependendo dos diferentes
referenciais, é explicado diversamente em sua gênese e desenvolvimento, o que,
consequentemente condiciona conceitos diversos de homem, mundo, sociedade e
cultura, educação conhecimento, escola, ensino - aprendizagem, relação
professor-aluno, metodologia, e avaliação. Disto derivam diferentes arranjos de
situação de ensino-aprendizagem e ações educativas. (MIZUKAMI, 1986, p.51)
Para efeito deste trabalho pretende-se enfocar a
abordagem humanista, pois se acredita que nesta, o aspecto fundamental do
processo de ensino –aprendizagem é a relação professor- aluno objeto de
reflexão do presente estudo.
Define-se esta abordagem como "centrada no aluno", em que o
conhecimento é construído a partir das experiências dos alunos e o professor é
um facilitador do processo ensino-aprendizagem, dando-se ênfase ao crescimento
pessoal que poderá resultar das relações interpessoais.
O homem é visto como pessoa situada no mundo, e está
em constante processo de descoberta de seu próprio ser, a partir da ligação com
outras pessoas e grupos.
O ser humano reconstrói em si o mundo exterior
partindo de sua percepção, de suas experiências atribuindo-lhes significados.
Portanto, cada indivíduo em particular tem sua própria
percepção do mundo. A experiência pessoal e subjetiva é fundamental para a
construção do saber e atribui-se ao sujeito o papel central na elaboração e
criação do conhecimento.
Tendo como ponto de partida esta abordagem espera-se
refletir sobre o aspecto da
relação
professor-aluno para aprofundar a compreensão e contribuir para a superação de
possíveis problemas.
Conforme define Masetto (1990) o ensino em sala de
aula é um encontro repetido com espaços de tempo, frequência e duração,
pré-determinados, em que seres humanos, colocados dentro dos limites da classe,
se defrontam, comunicam e se influenciam mutuamente.
Somente por isto já se pode pressupor a importância da
relação professor-aluno, pois por si só, poderá tomar este encontro agradável
ou não, dependendo da qualidade desta relação. Porém a importância deste tema
cresce na medida em que relembramos através das palavras deste autor, o
objetivo deste encontro: "A razão
central da realização desse encontro é a aprendizagem do aluno”.
(MASETTO,1990, p.l13)
Ou seja, inicialmente podemos pensar que
uma relação saudável entre professor-aluno poderia garantir que este encontro
fosse agradável e que despertasse o desejo de ambos em estar participando do
mesmo. Isto asseguraria no mínimo a presença dos participantes do processo de
aprendizagem, fato sine qua non , para que o ensino ocorra.
Pode-se afirmar também que o sentimento de bem estar
nesta relação é importante para assimilação dos conteúdos, uma vez que se sabe
que a atenção e a memória são seletivas, e que esta seleção é baseada nas
associações afetivas estabelecidas entre o aprendido e a situação em que se
aprendeu. Assim uma situação de aprendizagem num clima sócio- emocional
saudável proporciona maior assimilação dos_ conteúdos, e um clima
sócio-emocional conflituoso dificulta a assimilação dos mesmos. Isto pode ser
depreendido a partir da afirmação a seguir:
Mesmo estando limitados por um programa, um conteúdo,
um tempo pré - determinado, normas diversas da instituição de ensino, etc., o
professor e o aluno, interagindo, formam o cerne do processo educativo.
Conforme o rumo que tome o desenvolvimento desta interação, a aprendizagem do
aluno pode ser mais ou menos facilitada, orientada mais para uma ou outra
direção.
(MASETTO, 1990, p. l13)
Entretanto Masetto nos lembra que esta é uma relação
de dois pólos e recai sobre ambos (professor e aluno) a responsabilidade na
determinação do clima dessa relação. Porém, estes desempenham papéis
diferenciados nessa interação de sala de aula, e cabe ao professor tomar a
maior parte das iniciativas, incluindo dar o tom no relacionamento estabelecido
entre eles.
Por
outro lado, o aluno traz também suas contribuições: capacidades, interesses,
conhecimentos anteriores e um projeto de realização pessoal no qual a
instrução, a preparação profissional e a aquisição de novos conhecimentos é
requisito parcial.
Portanto, a ligação entre professor e aluno deve ser
de reciprocidade, o princípio e a base da colaboração. Sem reciprocidade,
simpatia e respeito nesta relação são praticamente impossíveis quaisquer
trabalhos construtivos na ação educativa.
A condição básica é o respeito à
personalidade do educando que deve ser tratado como pessoa. As atividades em
sala de aula devem ser permeadas por uma interação harmoniosa, no sentido da
noção do trabalho em comum, compreensão, simpatia e motivação.
Como vimos o papel do professor nessa tarefa é
decisivo, pois depende de sua capacidade de liderança e compenetração a
qualidade do conhecimento construído.
Embora muitos professores desejem que o aluno, desde o
início do curso, apresente um comportamento que requer integração, acomodação e
aprendizado, este só é possível na etapa final dos estudos. Deve-se lembrar que
estes comportamentos são os objetivos finais e não iniciais do processo
educativo.
Normalmente as queixas em relação ao aprendizado e a
indisciplina recaem sobre "o que os
alunos fazem", porém para compreender o comportamento do aluno é necessário
que se atente para "o que os
professores fazem". Deve-se refletir sobre o fato de que o
comportamento indesejável e as dificuldades que os alunos apresentam em relação
à assimilação dos conteúdos podem ser reações às atitudes e posturas dos
professores.
Partindo-se desta exposição inicial, pretende-se
através da análise de algumas situações do filme Mentes Perigosas, aprofundar
as reflexões sobre as dimensões e aspectos da relação professor-aluno.
Reflexões sobre as Mentes
Perigosas
Louanne Johnson é uma oficial da Marinha que abandona
sua carreira militar de nove anos para realizar um antigo sonho: tomar-se
professora de Inglês. Enquanto adquire suas credenciais numa escola de segundo
grau do norte da Califórnia, ela é designada para ensinar um grupo de
estudantes que irá mudar sua vida para sempre. E vice-versa. Para vencer a
resistência de seus alunos em aprender Ms. Johnson quebra todas as regras, cria
seu próprio currículo e aceita o desafio que o grupo de jovens lhe impõe.
(Sinopse extraída do texto de divulgação do filme.)
Este filme foi escolhido como provocador das reflexões
a que se propõe este estudo, pois apresenta muito claramente as possibilidades
de transformação que a relação professor-aluno pode propiciar.
Louanne Johnson, professora inexperiente é designada a
assumir uma classe que gozava de uma péssima reputação. Teve dificuldades
iniciais no contato com a classe. Essas dificuldades eram decorrentes das
"profecias auto-cumpridoras"
que o corpo docente da escola nutria a respeito desses jovens. Ou seja, sua
conduta inadequada e sua desadaptação social eram apenas reações
comportamentais ao que se esperava deles.
O primeiro impacto que teve em relação a turma, quase
a fez desistir: "- Não posso
lecionar para eles! "
Então seu amigo responde: "- Você pode. Tudo o que precisa é chamar a atenção deles."
Assim, esta educadora a partir deste pequeno diálogo,
percebeu que a primeira providência a tomar seria a de despertar a atenção dos
alunos. Como ela fez isto?
Procurou conhecê-los, entender suas realidades sociais
e pessoais, ou seja, orientou sua relação o com os alunos para o sentido
da realidade.
A este respeito podemos citar Nérici (1989):
"O educando, futuro cidadão, precisa conhecer a
realidade física, social e cultural em que tem que viver. Desta necessidade de
inspiração e articulação das atividades educacionais com os fatos e motivos da
realidade, a fim de o educando chegar a melhor conhecer e compreender o meio em
que tem de viver e atuar.” (p. 11)
Portanto, o estudo da realidade engloba também a sua
problemática para que, futuramente, o educando possa agir conscientemente,
predispondo-se a cooperar na busca e implementação de soluções, desenvolvendo
um sentido de aperfeiçoamento e de evolução.
Na medida em que "investigava", incentivando seus alunos a falar sobre suas
vidas, tomava consciente para eles, aspectos das suas vivências que estavam
inconscientes.
Esta conduta na relação professor-aluno abriu a
possibilidade de que seus alunos no mínimo parassem para prestar atenção em
suas perguntas. Isto despertou um sentimento de que alguém estava atento a
eles; a reação de reciprocidade na atenção foi quase que uma resposta natural.
Porém o processo ensino-aprendizagem pararia aí, caso
Ms. Johnson, não atentasse para outro aspecto da relação: Interesse.
Este aspecto refere-se a levar em conta as reais
possibilidades do educando em sua formação. Isto quer dizer, formar de acordo
com a realidade de cada um, com o objetivo de desenvolvê-los em
conformidade com as efetivas condições e possibilidades biopsíquicas em
correspondência com as possibilidades e necessidades sociais.
Podemos detectar isto durante o filme,
pois a professora está sempre buscando estabelecer relações entre o conteúdo e
a realidade de seus alunos.
O interesse pela realidade do aluno, faz despertar o
seu próprio interesse em sua realidade e nas relações que se podem estabelecer
entre o que é aprendido e a vida. A possibilidade de relacionar é que desperta
e mantém o interesse.
Não basta apenas despertar a atenção, deve-se ir além
disso, levando o educando a querer aprender. É a isto que chamamos interesse. E
o interesse é sempre relacional: estimula-se a partir da relação
professor-aluno e estende-se à relação aprendizado-vida:
- Poesia será moleza para este grupo.
- Você fica falando em poesia O que poesia tem a ver
com essa droga?
- Poesia? Bem... se você pode ler poesia, pode ler
qualquer coisa Se está pronto para a poesia, está pronto para o urso.
O vínculo de interesse professor-aluno é a base dos
vínculos nas relações com a realidade e de outras relações futuras, incluindo o
vínculo com a construção do conhecimento e com a mentalidade científica.
“Todos poderão,
no entanto, adquirir mentalidade científica, de maneira a se livrarem das
atitudes de credulidade, de ingenuidade e de insegurança diante dos fatos do
mundo.” (NÉRICI, 1989, p.19)
Percebe-se, no filme, que isto é contemplado a partir
da solicitação da professora para que os alunos pesquisassem e estabelecessem
relações entre a poesia de Bob Dylan e Dylan Thomas. É esta a base da
mentalidade científica, estabelecer relações para a construção do conhecimento.
Outro ponto fundamental da relação professor-aluno é a
motivação. O educador deve estabelecer um clima de entusiasmo em sala de aula e
vincular-se com o aluno de forma participativa, empática e libertadora.
Louanne procura proporcionar os aspectos citados
anteriormente iniciando com motivação a partir do reforçamento de respostas
assertivas.
"- Resposta correta
- Então me passa minha barra de chocolate "
Premia por resultados:
"- Bem, o negócio é esse.. Quando terminarem de ler, eu os levarei a um
lugar que tem os mais altos saltos de pára-quedas... os mais deliciosos hot
dogs e os melhores prêmios do mundo. "
Estimula também a competição saudável, através de
concursos com prêmios:
"- Aqueles
que vencerem o torneio Dylan- Dylan irão jantar comigo. "
E por fim, leva-os a perceberem que aprender é o
melhor prêmio:
"- Qual será o nosso prêmio por aprendermos isto?
- Aprender... esse será o prêmio. Saber como ler e
compreender algo. Esse é o prêmio. Saber como pensar... Esse é o prêmio.
- Eu já sei como pensar.
- Sabe como correr também, mas não saberia sem treino.
A mente é como um músculo. Se quiserem que seja forte terão que trabalhá-la
Cada fato novo dá a vocês outra escolha. Cada idéia nova faz outro músculo,
certo? Esses músculos serão suas armas. E neste mundo sem segurança eu quero
armar vocês.
- E os poemas são capazes de fazer isto?
- Sim, Tente! Está sentado aqui de qualquer forma. Se
ao final do semestre, não estiver mais rápido forte e inteligente.. não perdeu
nada. Mas se estiver... estará muito mais duro... de se derrubar.
Não se trata aqui de refletir sobre os méritos das
formas como ela motiva os seus alunos, mas sim, refletir sobre a importância de
uma relação motivadora para propiciar a aprendizagem.
Portanto, a dimensão motivadora desta relação deve
favorecer a participação, a extroversão e a formação para a vida pessoal, como
nos lembra Nérici (1989):
"Esta exigência, no entanto, se faz necessária,
não no sentido de transformar um intro em extrovertido, mas de levar um
introvertido a perceber e notar mais o mundo exterior, porque este requer, cada
vez mais, maior atenção, tendo em vista a sua crescente mecanização que
representa um perigo permanente para distraídos e concentrados em si mesmos.
(.. ) É preciso, pois propiciar ao educando exercícios que o ajudem a
"sair de dentro de si mesmo. " (p.19/20) "Far-se-á necessária
uma preparação(..) para melhor orientação da vida pessoal, tendo em vista o
tempo disponíveldo indivíduo. " (p.20)
Isto se faz possível a partir da
manutenção da motivação, que é o motor para as realizações no mundo e na vida
pessoal.
O quarto aspecto da relação professor-aluno é a
característica orientadora. Esta característica está relacionada com as três
anteriores e também com os aspectos que serão expostos até o fim deste estudo.
Assim, atenção, interesse e motivação vão produzindo
um contexto de participação do aluno no processo de aprendizagem, e também
propiciando a possibilidade das relações que se estabelecem com os alunos
servirem de meio orientador, a partir da necessidade natural que surgirá de bem
utilizar seus recursos próprios.
Isto quer dizer que o professor é autorizado pelo
aluno a intervir na forma como esse dá significado a sua realidade e a sua
formação, como resultado de um vínculo de confiança.
Esta dimensão refere-se à orientação para a
adaptabilidade e para a formação profissional.
No filme, a orientabilidade, aparece a todo momento,
porém se toma mais evidente nos trechos que reproduzem os diálogos com Emilio,
Callie e Raul.
O aspecto orientador da relação professor-aluno não
repousa na função de aconselhamento, pois essa orientação é não- diretiva . O
professor pode apenas ouvir a problemática do aluno, e esse simples ouvir pode
levar o aluno a resignificar seus problemas e seus recursos próprios para lidar
com estes.
Portanto, a orientação deve ser mobilizadora do
recursos internos, deve ser potencializadora e principalmente libertadora.
O aspecto que se liga diretamente a este é o do
desenvolvimento. Ou seja, as atitudes do professor em relação ao maior ou menor
interesse em aprimorar-se, atualizar-se, criar relações de conhecimentos e
estabelecer críticas construtivas, ressaltando as características positivas dos
alunos, ao invés de propagandear suas dificuldades estimula o desenvolvimento
global dos seus educandos.
A postura estimuladora das potencialidades na relação
professor-aluno provoca naturalmente o desejo de atualização e educação
permanente permitindo um melhor ajustamento às transformações sociais e a
realização pessoal.
Além disso, o atendimento ao espírito criador
desenvolve a personalidade, explicita as potencialidades e desenvolve o
espírito crítico libertando o aluno para pensar por si próprio, para não ser
levado a aceitar e reproduzir atitudes que não sejam fruto da sua própria
escolha.
"o professor educa não apenas
pelo conteúdo que ele transmite, mas principalmente (.. ) pelas suas atitudes
(..) é preciso que estas sejam' modelos para serem . imitados "(Zóboli,
1991, p.24)
As atitudes físicas e posturais do professor são muito
importantes, principalmente enquanto relação com a figura exemplar que lhe é
inerente à função. " (Zóboli, 1991, p.30)
Portanto, não basta que o professor seja estimulador e
entusiasmado em seu discurso, mas que também apresente uma postura que revele
ser ele uma pessoa atualizada, criativa e crítica, pois a atitude é mais
reveladora e ensina mais do que o mais brilhante discurso.
A heroína do nosso filme revela o tempo todo esta
dimensão da relação que estabelece com seus alunos:
"- Callie, eu estive pensando que com suas
capacidades e suas notas... Você já pensou em ir para a classe avançada no
próximo ano? "
" Raul é inteligente, divertido e desembaraçado.
- Eu gosto muito de tê-lo como aluno. "
"- Você percebe o trabalho que você tem feito
aqui? Você tem feito algo que é exigido nas universidades. Você pode se formar
se trabalhar duro com os outros professores como fez comigo.
- Você acha?
- Eu não acho, eu sei.
- Até que não foi tão difícil.
"- Você não entende nada, você não mora no meu
bairro. Você não pega aquele ônibus”
“- Pois bem, você fez uma escolha, escolheu pegar
aquele ônibus e estar aqui”
- Você não entende nada, moça!
- Outras pessoas do seu bairro escolheram não pegar
aquele ônibus... escolheram ficar pelas ruas, vender drogas e matar pessoas.
Você escolheu pegar aquele ônibus. “Mesmo que vocês não achem isto uma escolha,
foi isto o que vocês escolheram. Portanto, não há vítimas nesta classe.”
A vinculação é um aspecto decorrente de todos
os outros e começa a ser construído na relação professor-aluno desde que o
encontro em sala de aula. se inicia. É um aspecto fundamental, pois a qualidade
dos vínculos estabelecidos determina em grande parte a qualidade do
aprendizado.
Quando nos referimos a vinculação, cabe
esclarecer que esta é uma norteadora sistêmica da relação e se estende à:
1. Vínculo
professor-aluno: como os alunos são percebidos elo professor e como o
professor se liga à estes.
2. Vínculo
aluno-professor: como o professor é percebido, qual a imagem que ele passa
aos alunos, e como os alunos se ligam à ele.
3. Vínculo
professor-conteúdo: como o professor se liga ao conteúdo ensinado, suas
crenças, sua postura e entusiasmo em relação ao mesmo.
4. Vínculo
aluno-conteúdo: como o aluno se liga ao conteúdo, sua manifestação de
atenção e interesse em relação ao mesmo, sua motivação em aprender o tema
tratado, sua forma de estabelecer relações deste conteúdo com os seus
conhecimentos anteriores.
5.
Vínculo aluno-aluno: como os alunos se relacionam entre si, qual o clima
estabelecido nas suas relações, que tipo de apoio uns oferecem aos outros,
nível de competitividade.
Cabe ao professor manejar este universo vinculatório
desde o principio da relação em sala de aula. Isto se faz não só valorizando a
produção e participação individual que interferirá no vínculo professor-aluno e
aluno- professor . Deve-se também estimular o aluno a se interessar em
estabelecer relações do conteúdo com a sua realidade pessoal e social que
determinará a vinculação professor-conteúdo e aluno–conteúdo.
Por fim, terá que contemplar a vinculação aluno-aluno,
através da valorização da participação e do desenvolvimento de trabalhos em
grupos.
Esta dimensão e a qualidade da vinculação serão
definidoras do desenvolvimento do espírito de tolerância, da participação
social, do exercício da cidadania e do respeito pelo ser humano.
"E o professor como líder, é o grande responsável
pelo bom relacionamento. Sua influência na sala de aula é muito grande, e a
criação de um clima psicológico que favoreça ou desfavoreça á aprendizagem
depende principalmente dele" (PILETTI, 1989, p.250)
No filme, percebe-se que a professora atenta para
todos os elementos da vinculação:
1. Preocupa-se com a vinculação aluno- professor ao
atentar para sua imagem, nas passagens que se referem a que tipo de postura
tomará frente a classe, tipo de vestimenta que permita a identificação dos
alunos com ela, que fatos da sua vida pessoal revelará à estes e que
capacidades demonstrará gradativamente.
2. Preocupa-se com a vinculação professor-aluno,
quando procura conhecê-los, saber de suas realidades, conhecer seus anseios e
efetivamente participar nas atividades de classe.
3. Preocupa-se com a vinculação professor- conteúdo,
ao selecionar temas em que possa crer e transmitir com interesse e entusiasmo.
4. Preocupa-se com a vinculação aluno- conteúdo, ao
atentar para estimular as relações do que é ensinado com a realidade do aluno,
e explicitando como isto os tomarão capazes de lidar e transformar seus
problemas e suas realidades.
5. Preocupa-se com a vinculação aluno- aluno, ao desenvolver
atividades de grupo, ao procurar esclarecer problemas de relacionamento entre
eles, e ao incentivar a discordância respeitosa de opiniões e a aceitação das
diversidades de visões.
O último aspecto que fica muito claro no transcorrer
do filme, e de fundamental
importância
na relação professor-aluno é a afetividade.
Louanne demonstra uma grande capacidade afetiva nas
relações que estabelece ao
aceitar
os convites velados que seus alunos fazem para que ela se envolva em seus
universos pessoais.
Esta professora participa afetivamente das emoções
vividas em sala de aula, seja emoções decorrentes da transmissão do
conhecimento, seja das emoções provocadas por problemas pessoais e sociais,
seja das emoções surgidas a partir das relações aluno- professor ou aluno-
aluno.
"- Quando o corpo docente fez algo por nós?
- Eu sinto muito que você se sinta assim "
"- Por que você se importa? Você está aqui pelo
dinheiro. "
- Eu escolhi me importar.., e querida, o dinheiro não
é tão bom assim.. "
Ela demonstra que se importa com os alunos, que se
preocupa com os seus destinos. É capaz de dar-lhes apoio em suas dificuldades,
interessa-se por eles e coloca-se como continente de seus sentimentos.
"- Tem alguma coisa aqui que
eu deva saber?
- Vocês querem falar sobre isso? "
De fato, acredita-se que esta é a grande mensagem do
filme. Que a afetividade é permeadora e possibilitadora do surgimento dos
aspectos relacionais aqui tratados.
Assim, revela que a afetividade é o veículo da
qualidade da relação professor-aluno.
Isto nos lembra que ensinar é um ato afetivo, e que o
professor que possui esta capacidade, é aquele que realmente ensina, vai além
do conteúdo e ensina para a cidadania e para a vida.
CONCLUSÕES
"Sabemos (.. ) que a iniciação da aprendizagem não
se baseia nas habilidades de ensinar um líder, no seu conhecimento erudito do
campo no planejamento do currículo, no uso de subsídios audiovisuais, na
programação do computador utilizado, nas palestras e aulas expositivas, na
abundância de livros, embora tudo isso possa, uma vez ou outra, ser empregado
como recurso importante Não, a facilitação da aprendizagem significativa
baseia-se em certas qualidades de comportamento que ocorrem no relacionamento
pessoal entre o facilitador e o aprendiz "
(CARL ROGERS, 1972, citado por MASETTO, 1990, p.l16)
Com base na afirmação acima e tendo-se em vista tudo o
que temos discutido ao longo deste trabalho, pode-se afirmar que a relação
professor-aluno é um emergente sistêmico da interação em sala de aula e se
define a partir da organização interdependente e sinérgica dos aspectos de
atenção, interesse, motivação, orientação, desenvolvimento, vinculação e
afetividade.
Entende-se que a base do conhecimento efetivo,
construtivo e libertador está na capacidade de processar e reorganizar as
informações recebidas, disponibilizando- as para a utilização em diversos
contextos. Isto só se torna realidade na medida que seja possível aos educandos
dar significação às informações recebidas. Isto quer dizer que o conhecimento é
o resultado da atribuição de significados pessoais às informações transmitidas.
Significar só se toma possível a partir das relações
afetivas que se estabelecem entre o conteúdo e o aprendiz. A relação
professor-aluno é o veículo afetivo que possibilita a significação. Ou seja, o
componente mais importante no aprendizado é justamente a relação
professor-aluno. E isto significa dizer que sem essa relação não há
aprendizagem de qualidade, Seria difícil pensar que o aluno liga-se
afetivamente, de uma forma natural, ao conteúdo, aos métodos de ensino ou aos
recursos audiovisuais. Portanto, a matriz relacional estabelecida com todos os
outros componentes do ensino- aprendizagem será pontuada por esta relação.
Depreende-se então que parte desta relação se define a
partir das características e capacidades do professor.
"a primeira dessas qualidades é a autenticidade.
Ser uma pessoa real, apresentar-se tal como é, entrar em relação com o aluno
sem ostentar certa aparência ou fachada , encaminhar-se para um encontro
pessoal, direto, com o aluno, encontrando-se com ele na base de pessoa- a-
pessoa, ser uma pessoa inteira, viva, com convicções, com sentimentos, que não
se submeteu a um formalismo educacional " (MASETTO, 1990, p. 117)
"Uma segunda qualidade é a de apreço ao aprendiz,
a seus sentimentos, suas opiniões, sua pessoa (.. ) é a aceitação de um outro
indivíduo, como pessoa separada, cujo valor próprio é um direito seu. É uma
confiança básica - a convicção de que essa outra pessoa é fundamentalmente merecedora
de crédito. (..) Apreço pelo aprendiz como ser humano imperfeito, dotado de
muitos sentimentos e muitas potencialidades "(ROGERS, 1972, citado por
MASETTO, 1990, p. l17)
"uma terceira é a compreensão empática, quando o
professor tem habilidade de se "colocar na pele" do aluno, de
"calçar suas sandálias", compreender as reações íntimas do aluno e
permitir que este se sinta compreendido por alguém sem que este alguém o esteja
julgando" (MASETTO, 1990, p. l17)
Além dessas qualidades, o professor deve estar atuando
os aspectos desta relação traduzindo-a concretamente, conforme afirma Masetto
(1990) e Small (1992), estando atento:
1.
ao uso das aulas expositivas, utilizando-as apenas quando ela se mostrar eficaz
para os objetivos a serem buscados.
2, a
revelar as diversas explicações para um mesmo fenômeno.
3, a
flexibilidade na adaptação do conteúdo às situações emergentes em saia de aula.
4, a permitir a relação do conteúdo às experiências
dos alunos.
5. a
apontar os inter-relacionamentos da matéria.
6. a
favorecer o enfoque que permita voltar atrás, embora em níveis diferentes sobre
o conteúdo já assimilado.
7. a
não utilizar definições fechadas que limitem a criatividade e a imaginação.
8, a
ressaltar os conceitos de limite, causalidade recíproca, interdependência e
equilíbrio dinâmico no estudo dos sistemas complexos.
9, a
não separar o conhecimento dos fatos da compreensão das relações que os
vinculam.
10.
a permitir a atuação da subjetividade dos alunos ao compreender que a melhor
forma de ser objetivo consiste em reconhecer a subjetividade e tê-la em conta
em cada decisão.
11.
a permitir a multiplicidade dos valores culturais e individuais e a
relatividade das concepções do mundo.
12.
a facilitar e incentivar uma aproximação intuitiva, criativa e não- racional
para a resolução de problemas.
Confirmando estas colocações apresentamos os
resultados de uma pesquisa de Masetto (1992) que procurou investigar as
condições facilitadoras de aprendizagem:
"O clima se sala de aula colaborou significativamente
para a aprendizagem quando se construiu um ambiente de abertura, com
possibilidade de questionamentos, de respeito mútuo entre os alunos e
professor, de trabalho descontraído e espírito democrático; quando se construiu
um ambiente de participação, no qual professor e alunos trabalharam juntos,
expuseram seus pontos de vista, seus estudos, suas opiniões fundamentadas;
quando se construiu uma ligação entre teoria e prática, permitindo que a sala
de aula se transformasse num espaço onde a realidade externa unha condições de
ser considerada e estudada juntamente com os conhecimentos científicos
produzidos "(p. 24) (..) "Que características do professor
facilitaram a aprendizagem? (.. ) se mostrou bastante rico o elenco destas
características: - coerência entre discurso e ação; - segurança, abertura à
crítica e às propostas dos alunos, capacidade de diálogo; - competência
específica em sua área de conhecimentos; - competência didática; - clareza e
objetividade na transmissão de informações; - preocupação com o aluno e seus
interesses; - incentivo à participação e capacidade de coordenação das atividades;
- relacionamento pessoal e amigo; e . - paixão pela docência. (p.25)
Uma vez que os aspectos da relação estabelecida em
sala de aula sejam compreendidos e operacionalizados, pode-se então utilizar, a
bateria tecnológica como recursos de ensino, integrando-a nesta concepção de
educação.
Isto pode fazer com que o ensino seja uma verdadeira
experiência de aprendizado relacionada com o mundo e a realidade.
Assim, após essas reflexões conclui-se que essa
perspectiva educacional permite o redescobrimento do significado principal da
educação: comunicar a experiência humana.
BIBLIOGRAFIA
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Tarcísio. O professor universitário em sala de aula: prática e
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subsídios para a atividade docente. 3.ed, São Paulo, Ática, 1991.
* O TEXTO ENCONTRA-SE EM SEU FORMATO ORIGINAL. ERROS GRAMATICAIS E DISTORÇÕES SÃO DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR.
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