Durante
muitos anos acreditou-se que os adolescentes, assim como as crianças, não eram
afetadas pela Depressão, já que, supostamente, esse grupo etário
não tinha problemas vivenciais. Como se acreditava que a Depressão
era exclusivamente uma resposta emocional à problemática existencial, então
quem não tinha problemas não deveria ter Depressão.
Atualmente
sabemos que os adolescentes são tão susceptíveis à Depressão
quanto os adultos, mostrando assim que esse transtorno deve ser encarado
seriamente em todas as faixas etárias. A Depressão pode
interferir de maneira significativa na vida diária, nas relações sociais e no
bem-estar geral do adolescente, podendo até levar ao suicídio. Quase todas as
pessoas, sejam jovens ou idosas, experimentam sentimentos temporários de
tristeza em algum momento de suas vidas.
Estes
sentimentos fazem parte da vida e tendem a desaparecer sem tratamento. Isso não
é Depressão isso é tristeza. Quando falamos de "Depressão",
estamos falando de uma doença com sintomas específicos, com duração e gravidade
suficiente para comprometer seriamente a capacidade de uma pessoa levar uma
vida normal.
Não
devemos, nem por brincadeira, julgar as pessoas deprimidas como se elas
estivessem ficando loucas, nem tampouco devemos achar que há motivos para o
deprimido se envergonhar.
A Depressão
é uma doença como tantas outras da medicina, sem motivos para vergonha e com
real necessidade de tratamento, assim como a medicina faz com a asma, gastrite,
hipertensão, etc.
A Depressão
afeta pessoas de todas as idades, de todas as nacionalidades, em todas as fases
da vida. Estima-se que cerca de 5% da população mundial sofra de Depressão
(incidência) e que cerca de 10% a 25% das pessoas possam apresentar um episódio
depressivo em algum momento de sua vida (prevalência).
Entre
aqueles que já sofreram um Episódio Depressivo, há maior
probabilidade de terem mais outros episódios depressivos ao longo de suas
vidas, embora esta probabilidade varie muito de pessoa para pessoa.
Esse
assunto é também tratado aqui, na secção de Adolescência, porque muitas pessoas
apresentam uma primeira crise de Depressão durante a
adolescência, apesar de nem sempre essa crise ser reconhecida. Segundo os
especialistas, a Depressão comumente aparece pela primeira vez em
pessoas com idade entre 15 e 19 anos.
Há muitas
tentativas de se definir adolescência, embora nem todas as sociedades possuam
este conceito. Cada cultura possui um conceito de adolescência, baseando-se
sempre nas diferentes idades para definir este período. No Brasil o Estatuto da
Criança e do Adolescente define esta fase como característica dos 13 aos 18
anos de idade.
A
puberdade tem um aspecto biológico e universal, caracterizada que é pelas
modificações visíveis, como por exemplo, o crescimento de pêlos pubianos,
auxiliares ou torácicos, o aumento da massa corporal, desenvolvimento das
mamas, evolução do pênis, menstruação, etc. Estas mudanças físicas costumam
caracterizar a puberdade, que neste caso seria um ato biológico ou da natureza.
De fato,
observou-se nas duas últimas décadas um aumento muito grande do número de casos
de Depressão com início na adolescência e na infância. Algumas
pesquisas também mostram que cerca de 20% dos estudantes do 2º grau sentem-se
profundamente infelizes ou têm algum tipo de problema emocional. Talvez seja
porque o mundo moderno esteja se tornando cada vez mais complexo, competitivo,
exigente, e muitos adolescentes têm dificuldades para lidar com as necessidades
de adaptação que se deparam diariamente.
Os traços
afetivos da personalidade talvez sejam as condições capazes de explicar a razão
pela qual alguns adolescentes se tornam deprimidos enquanto outros não. Como
ocorre com qualquer outra doença, algumas pessoas são mais suscetíveis que
outras, além disso. Embora as tensões da vida cotidiana do adolescente sejam
importantes fatores para o aparecimento da Depressão muitos
jovens passam por acontecimentos desagradáveis sem desenvolver Depressão.
A tristeza, comum nos momentos de reflexão da adolescência, é uma experiência
normal que geralmente não progride para Depressão se a pessoa não
tiver outros requisitos emocionais propícios ao desenvolvimento do transtorno
afetivo.
Conflitos
da Adolescência
Hoje em
dia é comum pais se orgulharem ao ver seu filhinho/a lidando perfeitamente bem
com o computador, com o vídeo cassete, com aparelho de DVD e outras
parafernálias da tecnologia, muitas vezes quando eles próprios não sabem
fazê-lo ou fazê-lo tão bem.
O
conflito surge quando a criança se percebe frente a posições contraditórias.
Ela é, ao mesmo tempo, aquela que não sabe por não ser adulta ainda, portanto,
tendo que obedecer ao protocolo cultural de frequentar a escola, cursos cada
vez mais sofisticados e esportes que deixaram há muito o aspecto apenas lúdico
e, por outro lado, ela já não pode portar-se puerilmente. Não pode ser criança
por saber mais que os próprios pais a lidar, portanto por ter
responsabilidades, com os apetrechos da vida moderna tecnológica.
Assim
sendo, os adolescentes se encontram imersos num mundo de ambiguidades e
contradições. Entre as pulsões para "abraçar o mundo", passando por
cima de tudo e de todos, e momentos de Depressão e frustração, o
adolescente se ressente da falta de liberdade e autonomia dos adultos e, ao
mesmo tempo, não pode usufruir da irresponsabilidade da infância.
Durante a
puberdade, geralmente, a fase inicial das mudanças no aspecto físico é
contrária aos modelos de estética ideais. A garota gostaria de já se ver com
seios fartos, ancas roliças, etc., e o menino desejaria ter a musculatura
desejável, barba, etc. Essa distonia entre o corpo e a aspiração pode
desencadear sérias dificuldades de adaptação, uma baixa autoestima, uma falta
de aceitação pessoal, resultando em problemas depressivos, anoréxicos,
obsessivo-compulsivos.
As novas
relações sociais do adolescente, notadamente com os pais e com o grupo de
iguais também podem ser e forte fonte de ansiedade, confusão e sentir que
ninguém o entende. Paralelamente, sobrevém a angústia de estar só e de ser
incapaz de decidir corretamente seu futuro.
Os
conflitos tendem a agravar-se muitíssimo mais se este jovem estiver inserido
numa família que também está em crise, seja por separação dos pais, por
violência doméstica, alcoolismo de um dos pais, sérias dificuldades econômicas,
doença física ou morte.
Sintomas
O
adolescente possui tendência natural para comunicar-se através da ação, em
detrimento da palavra. Por isso, na busca de uma solução para seus conflitos,
os jovens podem recorrer às drogas, ao álcool ou à sexualidade precoce ou
promíscua. Tudo isso na tentativa de aliviar a angústia ou reencontrar a
harmonia perdida. Angustiados e confusos, podem adotar comportamentos
agressivos e destrutivos contra a sociedade. Por isso tem sido comum
observarmos o adolescente manifestar sua Depressão através de uma
série de atos antissociais, distúrbios de conduta, e
comportamentos hostis e agressivos.
Entre
adolescentes a Depressão também pode ser "mascarada"
por problemas físicos e queixas somáticas que parecem não ter relação com as
emoções. Estes problemas podem incluir alterações de apetite ou distúrbios de
alimentação, tais como anorexia nervosa ou bulimia. Alguns adolescentes
deprimidos podem se sentir extremamente cansados e sonolentos o tempo todo, e
exaustos mesmo depois de terem dormido por várias horas.
Embora a Depressão
Atípica seja a norma entre crianças e adolescentes, a Depressão
franca ou típica também pode ser comum. O jovem deprimido confia pouco em si
mesmo, tem autoestima baixa, experimenta alterações no apetite e no sono, se
auto-acusa e tem lentidão dos pensamentos. A baixa autoestima faz com que veja
a si mesmo como sem valor, feio, desinteressante e cheio de falhas pessoais
(veja Sofrimento Moral). Estes sentimentos angustiantes e depressivos levam,
invariavelmente, a prejuízo na saúde, na escola, no relacionamento familiar e
social.
Durante
um Episódio Depressivo o jovem costuma sentir-se inquieto ou
irritado, isolar-se de amigos ou familiares, ter dificuldade de se concentrar
nas tarefas, perder o interesse ou o prazer em atividades que antes gostava de
realizar, sentir-se desesperançado e ter sentimentos de culpa e perda do prazer
em viver. Pode também ter alterações do sono, por exemplo, ir dormir mais tarde
do que costumava fazer, acordar cedo demais, ter sonolência durante o dia; e do
apetite, que o leva a ganhar ou perder peso.
Muitas
vezes, o adolescente deprimido pode tentar suicídio. Faz isso de forma franca
ou velada. De forma velada age de maneira inconsciente, envolvendo-se em
atitudes completamente imprudentes, acidentes automobilísticos, uso progressivo
de drogas e álcool, ingestão de comprimidos perigosos, uso de armas de fogo,
etc.
O
Risco de Suicídio
Atualmente,
a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos de idade é o
suicídio. A primeira causa são os acidentes, principalmente com automóveis. O
índice de suicídio entre pessoas jovens triplicou nos últimos 30 anos
(Referência).
Quando
uma pessoa fala a respeito de cometer suicídio, ao contrário do que pensam
muitos, a coisa mais importante a fazer é levá-la a sério. As pessoas que falam
em suicídio podem estar, de fato, pensando em praticá-lo e, sendo jovens ou
não, a maioria dos que tentam o suicídio sempre dão uma espécie de
"aviso" sobre suas intenções.
Os principais sinais de advertência para o risco de transtorno do
humor que, eventualmente, pode resultar em suicídio são:
|
1.
Mudanças acentuadas na personalidade
2.
Mudanças acentuadas na aparência,
3.
Alterações nos padrões de sono
4.
Alterações nos hábitos alimentares
5.
Prejuízo no rendimento escolar.
6.
Falar sobre morte ou suicídio
7.
Provocar ferimentos em si próprio
8.
Pânico ou ansiedade crônicos
9.
Distribuir objetos pessoais
|
Entre
adolescentes com alto risco de suicídio, muitos tomam a trágica decisão após
uma situação de grande tensão, como por exemplo o rompimento de um
relacionamento, um fracasso escolar ou profissional ou uma briga importante com
os pais. A incidência de êxito entre adolescentes que realmente tentam por fim
à própria vida é maior entre o sexo masculino do que entre o sexo feminino.
Grosso
modo, podemos dividir os adolescentes vulneráveis ao suicídio em três grupos:
1.
Adolescentes com sintomas clássicos de Depressão, tais como
tristeza e desesperança.
2.
Perfeccionistas que estabelecem para si mesmos padrões muito alto de
desempenho.
3.
Garotos que expressam sua Depressão com comportamentos agressivos
ou atitudes de se expor a situações de risco, uso de drogas e confrontos com
autoridades.
A Depressão
neste grupo pode ser particularmente difícil de detectar, uma vez que estes
jovens tendem a negar quaisquer sentimentos de Depressão. Esta é
uma situação particularmente perigosa porque este é o tipo de adolescente que
mais provavelmente será bem sucedido em sua tentativa de cometer suicídio.
Quem
é mais vulnerável à Depressão?
Algumas
pessoas são mais suscetíveis à Depressão que outras, tal como
ocorre com qualquer outra doença. Além disso, a Depressão resulta
de uma combinação de múltiplos fatores e não de apenas uma causa.
De modo
geral, as tensões da vida cotidiana, agravadas pelo panorama existencial
próprio da adolescência, são importantes fatores que contribuem para o
aparecimento da Depressão nos jovens. O medo do fracasso, a
discriminação da faixa etária e a pressão para realizar inúmeras tarefas podem
contribuir para o aparecimento da Depressão.
Os
fatores genéticos têm importante papel no desenvolvimento de Depressão.
A ocorrência de Depressão é muito mais frequente nas pessoas que
têm familiares também com transtornos depressivos. Além disso, atualmente as
pesquisas concentram-se principalmente na área bioquímica da Depressão.
Acredita-se
fortemente que a Depressão possa ser causada por um desequilíbrio
de substâncias químicas cerebrais denominadas neurotransmissores, notadamente
três deles; a noradrenalina, dopamina e, principalmente, a serotonina. Além
disso, os neurorreceptores também desempenham importante papel no estado
depressivo.
Tratamento
Muitos
jovens deprimidos podem se beneficiar de um programa de tratamento adequado. O
primeiro passo, evidentemente, é procurar a experiência de um profissional
capacitado para diagnóstico, aconselhamento, tratamento e ajuda. Juntamente com
o adolescente, os familiares e o médico podem chegar a uma decisão sobre o tipo
mais adequado tratamento para o paciente. Para alguns adolescentes, o
aconselhamento pode ser a única terapia necessária. Muitas vezes o tratamento
medicamentoso é indispensável mas, mesmo com ele, o aconselhamento que envolve
o adolescente e sua família é bastante benéfico.
Existem
vários antidepressivos eficazes que podem ser utilizados no tratamento da Depressão
na adolescência, especialmente nos casos mais graves. As principais classes destes
medicamentos são os Antidepressivos Tricíclicos, Inibidores da Monoaminoxidase
(IMAOs), os Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS) e os
Antidepressivos Atípicos.
FONTE: Ballone
GJ, Moura EC - Depressão
na Adolescência - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br,
revisto em 2008.
* O TEXTO ENCONTRA-SE EM SEU FORMATO ORIGINAL. ERROS GRAMATICAIS E DISTORÇÕES SÃO DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR.
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