terça-feira, 13 de dezembro de 2011

COMPREENDENDO O SEU BEBÊ DEFICIENTE VISUAL




Atenção, cuidados e amor são absolutamente essenciais para um desenvolvimento saudável do ser humano. O primeiro ano de vida é um ano crucial, nunca nos desenvolvemos tão rapidamente quanto no nosso primeiro ano de vida. Gradativamente começamos a compreender que nossos bebês precisam muito mais do que os cuidados essenciais. Da mesma forma que os bebês não podem crescer fisicamente sem alimentação, calor e higiene decentes, também não podem crescer mentalmente – desenvolver seus sentimentos, intelecto, estrutura mental e emocional – sem que a eles se dediquem atenção e afeição suficientes.

O psicanalista Donald Winnicott disse uma vez que não há tal coisa como um bebê somente a unidade que se estabelece na relação entre uma mãe e um bebê. Sem alguém que lhe desse cuidados primários, um bebê não seria capaz de sobreviver. Se um bebê tem uma deficiência, isto é ainda mais verdadeiro. Saiba que os bebês não são tolos. Deficientes ou não eles começam a dar sua contribuição desde os primórdios da vida. São criaturas altamente inteligentes e perseverantes, mas não estão ainda informados. Enquanto percorrem a longa distância entre o nascimento e um ano de idade, eles têm muitíssimo a aprender. Nada sabem sobre o mundo ou sobre si mesmos. Enquanto você se esforça para tentar entendê-lo, ele ou ela também está se esforçando para entender você. Agora, com o bebê deficiente visual é primordial que, gradativamente e com criatividade, levemos o mundo até ele. Lembre-se que os outros sentidos não dão conta da estimulação essencial que chega automaticamente e continuamente através da visão. Obviamente aqui estou falando dos primórdios da vida psíquica, pois os bebês são criaturas fascinantes que nos despertam o pensar, quando não também ansiedade. Mas não somente nós, pais, familiares e profissionais, temos necessidade de entendê-los: os bebês têm, por seu lado, uma necessidade imperiosa de ser entendidos. Eles precisam que captemos suas comunicações e reflitamos, tentando dar sentido ao que acontece: é recíproco o provocar emoções e respostas de ambas partes. Assim, algumas vezes precisamos avaliar a nós mesmos, nossas próprias excentricidades, qualidades e fraquezas, como pais, familiares ou profissionais, principalmente, diante de nossa própria cegueira em ter sob nossos cuidados um bebê deficiente visual. Acredito que algumas pessoas com deficiências têm a habilidade e o apoio necessários para realizarem seus objetivos desde bebês, quer tenham nascidos deficientes ou tenham adquirido a deficiência em algum momento da vida. Outros não. Algumas crianças com deficiência trarão prazer e inspiração aos pais, familiares e profissionais. Outras trarão fardos. A maioria, como todas crianças, trará uma mistura de cada. A maioria dos pais consegue enfrentar as intempéries de se criar um ser humano sem necessariamente naufragar. Quando a bússola não está clara ou o mau tempo insiste demais, os pais deveriam reconhecer que a ajuda é necessária. A ajuda pode não prover terra seca, mas proverá apoio para a jornada. Nem tudo pode correr bem o tempo todo com todas famílias.

Entretanto, a chave para o caminho certo é muito simples. Diante de um bebê deficiente, ainda mais que os outros pais, familiares e profissionais, você tem que descobrir quem é o seu bebê e o que ele necessita. E lembre-se sempre: 1) A deficiência não causa santidade, embora admiremos aqueles indivíduos raros que se erguem acima da adversidade. 2) A deficiência não causa mau comportamento, embora possa esgotar os recursos emocionais da criança (e da família), fazendo com todos fiquem mais vulneráveis. 3) A deficiência necessita de atenção apropriada, reconhecimento e explicação. 4) Toda criança, qualquer que seja seu nível de deficiência, sabe que ele ou ela é deficiente e tem sentimentos e fantasias a respeito disto. 5) Não “deficientize” você mesmo sua família por fracassar em buscar apoio quando você necessita disso. 6) Quando uma criança não é capaz de desenvolver-se sem a intervenção de vários adultos, os pais herdam “uma família” extensiva de profissionais. É importante que a equipe – inclusive os pais e a criança ou adulto – trate um ao outro com cortesia. Pode haver rivalidade sobre de quem é aquela criança ou cliente, porém é a união amorosa de todos que fará a diferença. Concluindo, nunca percam de vista que todos são importantes ao permitir que o maior potencial possível de cada ser humano ganhe expressão e que socialmente somos todos responsáveis para que cada indivíduo conquiste o direito de vida plena. 



Eliane Pereira Lima - Especialista em Psicologia Clínica, Organizacional e do Trabalho





Bibliografia:
AMIRALIAN, M.L.T.M., Compreendendo o Cego – uma visão psicanalítica da cegueira por meio de desenhos-estórias, São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.
A Cegueira Congênita e o Desenvolvimento Infantil, Revista Benjamin Constant, nº 4, Set/1996. A construção do cérebro, Revista Veja, Editora Abril, Edição 1436, ano 29, nº 12, 1996.
CARROL, T.J., Cegueira: o que ela é, o que ela faz e como viver com ela, São Paulo, 1968.
BRUN, D., A criança dada por morta: riscos psíquicos da cura, São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.
ELIACHEFF, Caroline, Corpos que gritam: a psicanálise com bebês, São Paulo: Ed. Ática, 1995.
MILLER, L., Compreendendo seu bebê, Riode Janeiro: Imago Ed., 1992.
SINASON, V., Compreendendo filho deficiente, Rio de Janeiro: Imago Ed., 1993.
WINNICOTT, D.W., A Família e o desenvolvimento individual, São Paulo: Martins Fontes, 1997.
WINNICOTT, D.W., Da pediatria à Psicanálise: obras escolhidas, Rio de Janeiro: Imago Ed., 2000.
WINNICOTT, D.W., Os bebês e suas mães, São Paulo: Martins Fontes, 1999.


Fonte: CPC- Centro de Prevenção à Cegueira de Americana



* O TEXTO ENCONTRA-SE EM SEU FORMATO ORIGINAL. ERROS GRAMATICAIS E DISTORÇÕES SÃO DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR.

Um comentário:

  1. Agradeço imensamente à autora Eliane Pereira Lima por me ceder (via email) a bibliografia utilizada em sua pesquisa que gerou esse maravilhoso artigo científico.

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