domingo, 12 de dezembro de 2010

REPORTAGEM: CELULAR PARA SURDOS - CADÊ OS NOSSOS DIREITOS DE COMUNICAÇÃO?


Antigamente, os surdos queriam se comunicar por telefone, mas não podiam pois são surdos e como não escutam e às vezes não conseguem falar, comunicavam-se escrevendo cartas para seus amigos surdos. Usavam as cartas por que não havia tecnologia que permitia aos surdos a comunicação da mesma forma que os ouvintes, usando um telefone.  
Mesmo o inventor do telefone, Prof. Alexander Graham Bell, Professor de Escola de Surdos e sua mãe e esposa também surdas, além de inventar uma tecnologia só para pessoas ouvintes, fundou uma companhia telefônica BELL – BELL TELEPHONE COMPANY, e esquecendo os surdos que necessitam muito. Atualmente a BELL TELEPHONE COMPANY é uma das maiores empresas de telecomunicações do mercado, a poderosa AT&T. Imaginem se Bell tivesse criado uma empresa de tecnologia de comunicação para surdos!

Passados vários anos da invenção do telefone Robert Weitbrecht, surdo de nascença, inventor e pesquisador em tecnologias para surdos, desenvolveu uma maquina telegráfica e  inventou o TTY (teletypewryter), e,  utilizando este TTY em uma linha de telefonia publica conseguiu comunicar-se com seu o amigo, e, este novo aparelho, hoje é muito conhecido como TDD (Telecommunciations Device for the Deaf) ou TS (telefone para surdos).

Quando um surdo trouxe o TDD para o Brasil todos os seus amigos queriam compram este TDD. Mas não tinha empresa de importação, e os TDDs eram trazidos por amigos que iam aos Estados Unidos. A comunicação por TDD utiliza a linha telefônica analógica normal que temos em casa e com isto os surdos pagavam muito caro por esta comunicação. O tempo usado pela fala e por digitação são muito diferentes. Gasta-se muito mais tempo para digitar uma frase do que dizê-la por voz. A conseqüência disto é que os surdos sofriam muito para pagar as suas contas de telefone com altos valores.

Durante algum tempo, um empresário abriu uma loja que vendia telefones para surdos no Brasil. Este empresário levou o TDD para a TELESP - Telecomunicações de São Paulo, que hoje é a Telefônica. Os engenheiros e gerentes da TELESP riram muito pois não acreditavam que os surdos usariam o TDD.

O governo federal reconheceu que os surdos têm direito e exigiu a criação de Centrais de Atendimento para Surdos nas empresas telefônicas, para fazer a intermediação das ligações entre os surdos e os ouvintes. A primeira a colocar foi a TELERJ, hoje TELEMAR / OI. A função do CISO - Central de Intermediação Surdo Ouvinte ajuda aos surdos para comunicar com uma outra pessoa ouvinte que não tem TDD. Os surdos poderão ligar para marcar a consulta médica, comprar pizza, conversar com a família, etc..., Na época o treinamento das pessoas operadoras para fazer a intermediação e a interpretação da forma escrita do surdo para forma oral para o ouvinte e vice versa feita pelo Instituto Nacional de Surdos do Rio de Janeiro, inclusive com o aculturamento  para conhecer melhor a cultura e a linguagem dos surdos. Este serviço foi logo criado em outras operadoras telefônicas.

Depois o Governo Federal criou a Lei de Acessibilidade e lá existe artigo diz que é necessário aumentar a quantidade de TDD em diversos lugares, e também ter uma Central de Intermediação Telefônica. Mas estas determinações são a tecnologia velha e não colocaram nada sobre a nova tecnologia como computador, celular, e vídeo dentro da Lei de Acessibilidade, e as empresas só se preocupam em segui o que está escrito na Lei de Acessibilidade. O surdo precisa que tanto o Governo Federal como as empresas reconheçam a evolução tecnológica e coloquem na legislação as tecnologias que os surdos efetivamente utilizam. Isto já acontece em vários países da América, Europa e Ásia, são exemplos para serem seguidos.

Com a evolução da tecnologia, surgiram computadores, celulares, etc..., os surdos acompanharam nova tecnologia. Hoje 90% dos surdos estão utilizando celulares para a comunicação através de torpedo - SMS que é uma mensagem digitada pelo surdo e enviada para o celular de outro surdo. A comunicação é muito boa, funciona muito bem só que o problema é o custo. É caríssimo para o povo surdo pagar as tarifas de SMS, pois as tarifas para a falar e enviar mensagens são completamente diferentes. Os ouvintes têm mais vantagens quando utilizam mais minutos de conversação, e os surdos não tem vantagem alguma para utilizar maior quantidade de torpedos – SMS. O mais incrível é que o surdo é obrigado a comprar um plano celular de Voz, quando deveria ter uma oferta das empresas para um plano de dados e SMS.

O povo surdo não queria “falar” muito, queria usar este torpedo somente em caso de emergência para avisar a família, trabalho, e também amigos. E por vezes quando surdo precisasse marcar a consulta médica e mandar mensagem para amigos ouvintes também usaria esta tecnologia. Toda mensagem enviada é respondida e os custos para todos torna-se muito alto. É muito mais caro do que a comunicação por voz, mas é o que o surdo mais usa. Deveria haver uma atenção dos responsáveis no Brasil por acessibilidade e comunicações para uma tarifa especial para aplicar na comunicação usada pelos surdos.

Um outro problema é que nós, o povo surdo, necessitamos muito do Serviço Intermediação Surdo Ouvinte utilizando as novas tecnologias como internet, celular e vídeo, da mesma forma que existe hoje com o TDD. Só que ainda não existe legislação no Brasil para isto, e precisamos urgência criar um Serviço de Intermediação com mensagens de celulares. Somos 6 milhões usuários no povo surdo, que também são clientes das 10 operadoras de celulares, que nem preocupam com a acessibilidade dos surdos.

Só não entendo nada que o que Anatel e o Ministério das Comunicações estão fazendo, já que existe o FUST que é um fundo que é para melhorar a comunicação dos surdos mas ainda não melhorou nada mas já usou um pouco deste fundo para a instalação de TDD instituições, mas o que é o povo surdo utiliza, em grande maioria, são celulares e para isto é que precisamos do incentivo do Governo Federal.

Várias cartas de manifestação já foram enviadas para Órgãos Públicos como Anatel, Conade, Corde, Senadores, Deputados etc e ainda nem deu resultado positivo e nós surdos, 6 milhões usuários estamos esperando uma solução melhor para a comunicação dos surdos por meio de mensagens dos nossos celulares.

Lembrando aos deputados e senadores que fizeram a Constituição do Brasil no ano de 1988, que em seu artigo 5º, dispõe “TODOS SÃO IGUAIS PERANTE A LEI, SEM DISTINÇÃO DE QUALQUER NATUREZA...” e esperando que tenham conscientização para reconhecer a importância da comunicação para o Povo Surdo.



POR:  Prof. Neivaldo Augusto Zovico - Diretor Regional da Feneis – SP
Consultor de Acessibilidade de comunicação e visual para pessoas surdas e deficientes auditivos.

FONTE: http://www.feneis.org.br/page/noticias_detalhe.asp?categ=1&cod=736  




* texto igual ao original. sem a correção dos erros gramaticais.

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