quarta-feira, 18 de maio de 2011

CARTA DE MARIA TERESA MANTOAN EM RESPOSTA AO PAI DO ALUNO SURDO


Senhor Emiliano, tudo bem?

O senhor conhece o que a educação especial, na perspectiva da educação inclusiva, oferece aos alunos com surdez, por meio do Atendimento Educacional Especializado, ou nas salas de aula de ensino comum?

O que falta ao movimento dos surdos por uma educação bilíngue é conhecer a fundo o que a educação inclusiva propõe nesses casos.

Exista ou não uma cultura surda, o que importa é que seu filho e outros alunos estejam em uma escola para todos e que essa escola se comprometa a executar o que as políticas inclusivas e o que legislação menor e a Constituição/88 predizem.

Se os pais de pessoas com surdez , as pessoas com surdez , seus professores e defensores, estivessem devidamengte informados sobre o que a inclusão propõe para a educação brasileira, não estariam querendo apenas defender a cultura surda, mas uma escola de qualidade para seus filhos, uma escola em que as culturas se encontrassem e se questionassem abertamente.

 As escolas especiais seriam esse lugar provilegiado de confronto, de conhecimento, de reconhecimento do outro ? E mais,  são, pelo menos, eficientes? Como explicar  o desempenho sofrível da maioria de alunos surdos egressos dessas escolas, no ensino básico e superior? Todos esses alunos são pessoas inteligentes, mas que não foram desafiados a aprender, no ambiente escolar plural, condição essencial para o desenvolvimento social, intelectual, afetivo de todos. Por que razão excluir alguns, para depois incluir, se na escola comum eles têm o direito de estudar a LIBRAS, a Língua Portuguesa, aprendendo e praticando-as com os demais colegas?

O multiculturalismo crítico se manifesta nessas situalções de confronto, de desafio, de questionamento e não no isolamento e em outras situações de exclusão, cujas consequências o senhor conheceu um exemplo recente  no Rio de Janeiro.

Aprender  a  "estar com" o outro se  manifesta naturalmente nos ambientes comuns, não segregados e não acontece nos ambientes restritos de aprendizagem das escolas especiais.

No mais, acho que a falta de informação sobre o que a educação inclusiva oferece e preconiza faz acom que as pessoas surdas e seus defensores preguem algo que já está disponível, mas que nao podem ou não querem ver. Os motivos? Não sei.

Entendo que os surdos lutem por uma educação bilíngue, mas esta é uma das metas da inclusão escolar: educação bilíngue, mas na escola de todos, pois é nessa escola em que ela se manifesta como necessária e pode, portanto ser, devidamente praticada. Os surdos despertaram para o bilinguismo só agora, com o advento da inclusão? Não estariam mais uma vez desinformados e lutando por uma escola bilíngue, que já está contida na plataforma de mudanças da inclusão. Por que não lutam direta e abertamente contra a inclusão ? Estão usando uma inverdade como estratégia. Ela  até pode enganar alguns, os que ainda enxergam nas pessoas com surdez, os sofridos, os coitados, como eles próprios apregoam, chutados da escola, enfim, destituídos de sua língua. Quem está lhes infundindo nas pessoas surdas e na opinião pública essas idéias? Com que intenção?

Lutem por causas que elevem e dignifiquem seus filhos. Lutem por causas que têm a ver com formação, dignidade e acento na  cidadania, sejam as pessoas de uma cultura ou de outra. O Brasil é um caldeirão de culturas e todas elas devem estar mescladas, em uma escola das diferenças. É difícil entender tudo isso?

Envio-lhe a seguir, uma mensagem que recebi de uma pessoa surda. Espero que ela expresse melhor o que as pessoas surdas estão perdendo, encaminhando suas inteligências e energias para uma luta que não cabe mais nos nossos dias.

Esta é minha posição sincera de estudiosa da educação e de pessoa que não precisa estudar a cultura surda, muçulmana, africana, anglo saxônica, mediterrânea... nórdica, indígena.... para sustentar seus pontos de vista.

O mundo não é mais um espaço da diversidade, mas das diferenças, ou seja, não é mais um espaço dos idênticos , dos mesmos, reunidos em blocos, categorias. As lutas que devemos empreender no momento, são por uma humanidade que questiona, combate  identidades fixadas, permanentes e centradas  em uma unica característica das pessoas,  pela realização de todos, nas suas diferenças.

Antes da cultura surda existem  as pessoas surdas e elas estão aprendendo com movimentos como este a serem as mesmas, ou seja, os surdos. Não somos os mesmos.

Um abraço e segue a mensagem prometida.



Em primeiro lugar, receba meus cumprimentos pela pessoa que você é, mulher guerreira e batalhadora. Esteja certa que faço de mim seu companheiro de luta, seu parceiro para todas as horas.

Talvez você fique surpresa a meu respeito. Sou surdo desde criancinha (tinha 1 ano e meio e fiquei surdo). Preocupada com a minha situação, minha mãe procurou informações sobre como educar uma criança surda, enfrentou todas as adversidades e descrenças e batalhou durante muitos anos para me ensinar a falar e escrever corretamente português.

Estudei em escola para surdos, mas nesta escola permitia também alunos ouvintes objetivando fazer valer a filosofia educacional de haver intercâmbio cultural entre 2 mundos diferentes promovendo a aceitação da diferença, aliás a inclusão. Naquela época, a palavra  inclusão  não era moda, usava-se mais  integração , mas a essência é a mesma.

Devido ao sucesso da minha vida como pessoa surda que conseguiu derrubar a barreira da comunicação, sou oralizado, sei também LIBRAS, e acho justo agradecer a todos que me ajudaram a construir minha vida, principalmente minha mãe. Todo esse sucesso deve-se à filosofia inclusiva a que fui submetido e sou lhe muito grato por esta oportunidade que vivenciei.

Hoje dou palestra sobre inclusão, pois sou a prova viva deste sucesso da inclusão, presto depoimentos para pais e mães de crianças surdas em busca de consolo e auxílio para participar mais deste processo inclusivo objetivando fazer destas crianças futuras pessoas plenamente aceitas na sociedade sem traumas.

Indo direto no assunto, quero deixar expressa minha opinião de que sou a favor da inclusão pelos motivos que expliquei acima. Seria falsidade minha ir contra a inclusão, pois primeiro: sou uma pessoa plenamente realizada graças a inclusão e segundo: todos os professores, colegas, amigos e familiares acompanharam a minha educação e negar a inclusão seria traição e ingratidão por estes que me ensinaram o ABC da vida.

Soube que vai haver uma passeata dos surdos em Brasília, surdos esses que são contra a Inclusão. Só para deixar bem clara: graças a apenas uma ou duas pessoas que, através de vídeos e mensagens por celulares, e-mails e redes sociais, rapidamente se espalhou toda forma de distorção e mentiras sobre a temática da inclusão de tal maneira que incitou ódio em muitos surdos. Graças a essas mentiras, os surdos desinformados caíram como vítimas destas lideranças corruptas e desesperadas.


Flaviane Reis foi uma destas lideranças surdas que, ao ver o vídeo dela dizendo que a inclusão acaba com a LIBRAS, só fez com que manche sua própria reputação como Mestranda em Pedagogia em uma universidade. 



Video: http://www.youtube.com/watch?v=2CJROQ2_qWs&feature=share.


Neste vídeo ela afirma que Mantoan é contra o uso da LIBRAS na escola inclusiva. 


Que eu saiba, num texto retirado do site: http://www.smec.salvador.ba.gov.br, onde você afirma que os alunos precisam de liberdade para aprender do seu modo, de acordo com as suas condições. E isso vale para os estudantes com deficiência ou não. Ora, isso deixa bastante perceptível que Flaviane Reis é uma pessoa (mesmo mestranda) completamente desinformada sobre educação inclusiva e tal afirmativa dela exposta neste vídeo faz dela uma mentirosa ou abusa de palavras que distorcem o real conceito do termo  inclusão .

Diante de ato de falsidade ideológica, deixo expressa minha tristeza e revolta e me coloco a sua disposição para lutar e manter a política da inclusão em toda parte.


Cordialmente,

Hans Frank
Palestras sobre Surdez, Prevenção e Reabilitação
Palestras sobre Sociedade Inclusiva
Professor de LIBRAS com certificação MEC
Graduando em Administração - Universidade Anhanguera-Uniderp
Campinas   São Paulo   Brasil

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