domingo, 8 de abril de 2012

A HISTÓRIA DO MÉTODO BRAILLE



Louis Braille - o criador da técnica que trouxe liberdade e independência para os cegos

Louis Braille nasceu em Coupvray, pequena aldeia a leste de Paris, França, em 4 de janeiro de 1809. Braille era o filho mais novo de quatro irmãos, sendo duas mulheres. A sua vida foi humilde, em 1812, quando brincava na oficina do pai, feriu-se num dos olhos. A infecção progrediu, transmitiu-se ao olho são, causando cegueira total algum tempo depois. Pouco deve ter conservado de imagens visuais ou recordações dos rostos e dos lugares da sua infância.

Os pais souberam assegurar, da melhor maneira possível, a primeira educação do caçula. O pequeno Braille frequentou a escola da sua aldeia, após o acidente, foi estudar na instituição que Valentin Haüy, uma das primeiras pessoas na Europa a se preocuparem com a educação e integração sócio-profissional dos cegos, havia fundado, com o nome de Institut National des Jeunes Aveugles, ou em português, Instituto Nacional dos Jovens Cegos. Foi nesta época que Braille desenvolveu a base do desenvolvimento da sua destreza manual. No Instituto, Braille adotou o alfabeto comum para a leitura, que se traçava em relevo na expectativa de que as letras fossem percebidas pelos dedos. Para a escrita, utilizou caracteres móveis. Os alunos aprendiam a conhecer as letras e os algarismos, a combinar os caracteres para formar palavras e números e a construir frases. Tudo isso não passava de meros exercícios tipográficos.

O pai de Louis Braille teve conhecimento da existência da Instituto Nacional dos Jovens Cegos, em Paris, e escreveu repetidas vezes ao diretor para se inteirar dos trabalhos que eram realizados lá. Depois de algumas hesitações, decidiu-se pelo internamento para Braille. Na instituição, Braille estudou e leu livros impressos em caracteres ordinários, nos modelos de Haüy. Era habilidoso, aplicado e inteligente.

A vida de Braille foi transformada por causa de sua saúde. Muitas vezes ele teve que repousar por longos períodos. Em Coupvray, cidade natal de Braille, estão seus restos mortais desde 10 de janeiro de 1852, sua morte foi em Paris, no dia 6 do mesmo mês. No centenário da sua morte, em junho de 1952, representantes de 40 países foram a Coupvray e acompanharam a transferência do seu corpo para o Panteão dos Homens Ilustres. Era o reconhecimento da França, a gratidão dos cegos de todo o mundo, para quem Braille, mais do que um nome, é um símbolo. Símbolo da emancipação conquistada.


O Bicentenário de Braile

Como muitos dos avanços da humanidade nasceram das guerras, com o código primitivo que originou o Sistema Braile não foi diferente. O oficial da artilharia francesa Charles Barbier, queria ler mensagens nas trincheiras escuras sem usar nenhuma luz que chamasse a atenção do inimigo, dessa forma ele criou o primeiro sistema de leitura por tato. Quando tinha apenas 12 anos, o também francês Louis Braille, que era cego, conheceu o sistema, passou a utilizá-lo e após alguns anos, conseguiu melhorar significativamente o sistema de leitura através do tato.

Braille trocou a representação por sons (fonética) do método original pela representação por letras (alfabética) e reduziu os 12 pontos para apenas seis, formado por duas colunas com três pontos cada. O Sistema Braile representa letras, números, sinais de pontuação, acentuação, etc. Cada um dos signos é representado por pontos em relevo. O agrupamento de seis possibilita a constituição de 63 símbolos diferentes que servem para representar caracteres da literatura, da matemática, da informática e da música. O sistema foi inventado em 1825 e até hoje é utilizado em todo o mundo.

O Sistema Braile é um modelo de lógica, de simplicidade e de polivalência, que se tem adaptado a todas as línguas e a toda a espécie de grafias. Com a sua invenção, Louis Braille abriu aos cegos as portas da cultura, arrancando-os à cegueira mental em que viviam e mostrando-lhes horizontes novos na ordem social, moral e espiritual.

Apesar da sua eficiência em proporcionar o acesso das pessoas cegas a informações, leitura, estudo, etc. o sistema não conseguiu ainda progredir e atingir todos os meios da sociedade. Sendo assim, o cego enfrenta muitas dificuldades, pois dificilmente encontra outras pessoas que conheçam o sistema, e, na maioria das vezes, os equipamentos, setores públicos, e outros, não trazem as informações escritas em Braile. Torna-se difícil até mesmo utilizar o banheiro, pois não têm como saberem se é feminino ou masculino. Esse problema seria facilmente resolvido se as letras da placa na porta dos banheiros públicos tivessem a inscrição em Braile. Assim, vários outros se manifestam. Cardápios, cartazes informativos, placas com o nome das ruas, entre muitas outras. O sistema Braile ainda tem que ser difundido para que as pessoas cegas sejam realmente incluídas na sociedade e possam ter maior autonomia, o que trará uma vontade muito maior de viver para cada uma delas apesar da sua limitação.

A maioria dos historiadores aponta o ano de 1825 como a data do aparecimento do Sistema Braile, mas só em 1829 Louis Braille publicou a primeira edição do seu sistema. Nela havia 96 sinais agrupados em nove séries de 10 cada uma e mais seis suplementares. Apenas as quatro primeiras séries correspondem ao sistema que atualmente é utilizado. As restantes combinam pontos e traços, aproveitando elementos dos métodos anteriores de escrita linear. O processo de 1829 proporcionou uma excelente base de experimentação. Sabe-se que por volta de 1830 o Sistema Braile começou a ser empregado nas aulas para a escrita de exercícios. Porém, sua forma definitiva apareceu em 1837.


A educação dos cegos

Apesar da já existência do Instituto fundado por Haüy, era necessário um cego para imaginar um alfabeto tátil. E também foi preciso perseverança para impor o seu uso. Os professores e diretores de escolas especiais, eram contrários à adoção de um alfabeto especial para aqueles que não enxergavam. Por isso, agarravam-se ao princípio de Haüy segundo o qual a educação dos cegos não deveria diferenciar-se da dos outros estudantes, ou seja, em caracteres comuns. Só o impulso dos cegos que usavam o alfabeto Braile pôde obrigar os responsáveis pela sua educação a reconhecer os frutos que a aplicação deste alfabeto produzia nas escolas. O Instituto Nacional dos Jovens Cegos, em Paris, onde o Sistema Braile foi concebido e aperfeiçoado, demorou 25 anos a aceitá-lo de maneira definitiva. Aponta-se a data de 1854 como a da implantação do Braile na França.

Nos países ou regiões em que não era conhecido nenhum outro método de leitura e escrita para cegos foi diferente. Na América Latina a história da educação das pessoas cegas começou com o Sistema Braile. A chegada do Braile, o início da alfabetização e educação e também a criação de peródicos e bibliotecas para cegos foram fenômenos simultâneos.

No Brasil, a difusão do Sistema Braile começou em 1854. Neste ano, o Instituto Nacional dos Jovens Cegos, instaurou um método de leitura em língua portuguesa, registrado no Museu Valentin Haüy. Um brasileiro cego, José Álvares de Azevedo, regressou ao Brasil depois de ter estudado durante seis anos em Paris. O Dr. Xavier Sigaud, médico francês que prestou serviços a corte imperial brasileira, que também era pai de uma filha cega, Adélia Sigaud, conheceu o jovem e o apresentou ao Imperador D. Pedro II, conseguindo despertar o seu interesse para a possibilidade de educar os cegos. O médico foi o primeiro diretor do Instituto Imperal dos Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamin Constant, inaugurado no Rio de Janeiro em 17 de setembro de 1854.

De todos os países de línguas europeias só os Estados Unidos se atrasaram muito em seguir este movimento. Na maior parte das instituições usavam-se os caracteres romanos juntamente com o New York Point ou Wait System. Neste sistema, o retângulo Braile tinha três pontos de largura por dois de altura. O acordo apenas surgiu no Congresso de Little Rock, em 1910.

Ler em Braile é muito fácil. Basta que se conheça os símbolos e pode-se ler normalmente, seja com o tato ou com a visão. Os caracteres são lidos da esquerda para a direita e até sinais de pontuação são representados através dos pontos em alto relevo. Assim quando uma pessoa desliza sobre o papel a ponta do dedo, sente os pontos e entende o que está escrito. Para escrever é necessário um pouco mais de técnica. São utilizados dois instrumentos chamados reglete e o punção. A reglete é uma placa de metal com orifícios em uma de suas faces. O papel, é colocado em cima dessa placa e pressionado com o punção, um instrumento semelhante a uma agulha, mas com a extremidade arredondada, para que, ao pressionar o papel, que é mais consistente que o normal, contra os orifícios da reglete, este não seja perfurado, e sim apenas marcado. O papel é marcado da direita para a esquerda, no sentido contrário ao da escrita. Ao terminar o papel é virado e pode-se ler normalmente.


A vida dos cegos pós-Braile

A vida dos cegos melhorou bastante após o desenvolvimento do Sistema Braile. Dispondo de um processo fácil de leitura, o gosto pelos livros estendeu-se amplamente entre os cegos e ocupou um lugar importante na sua vida. O conhecimento intelectual, sob todas as suas formas (filosofia, psicologia, teologia, matemáticas, filologia, história, literatura, direito e outros), tornou-se mais acessível aos cegos. Os benefícios do Sistema Braile estenderam-se progressivamente, à medida que as aplicações revelavam todas as suas potencialidades.

Nos dias de hoje as novas tecnologias apresentam aplicativos para valorizar o Sistema Braile. A drástica redução de espaço proporcionada pelo Braile eletrônico é exemplo disso. Um livro em Braile com 2000 páginas, no formato A4, por exemplo, pode ocupar um CD. Uma vez introduzido no computador, o usuário tem ao seu alcance toda a informação não gráfica disponível, que pode ler através de um terminal Braile. Um outro exemplo é a facilidade de imprimir textos em Braile. Introduzidos no computador, os textos podem ser submetidos a um programa de tratamento específico e sair numa impressora Braile.

Há também computadores que já conseguem traduzir do Braile e para o Braile. Atualmente há até alguns que conseguem imprimir páginas em frente e verso, reconhecer voz e transformá-la em Braile, entre outros recursos que facilitam o acesso de cegos à informática. Há também capas para teclado com as teclas em Braile. Estas se encaixam no teclado de modo que o cego pode digitar normalmente.

Há ainda outros equipamentos como brinquedos de montar, relógios que permitem a verificação das horas por meio do tato, e outros. Há equipamentos que não utilizam o Braile e sim o som, para que os cegos possam ter melhor acesso. Muitos sites, computadores, e sistemas em locais públicos, já fazem uso desse método.

Está cada vez mais comum a presença de livros sonoros, os audiobooks, nas livrarias brasileiras. Estes livros e a informática são muito importantes para o desenvolvimento cultural dos cegos, mas nada poderá ou deverá substituir o Braile como sistema base da sua educação. Tal como a leitura visual, a leitura Braile leva os conhecimentos que facilitam a assimilação daquilo que se lê. O Braile é, ainda, o único meio de leitura disponível para os cegos. Mesmo assim, é por meio dele que estas pessoas entram contato com a estrutura dos textos, a ortografia das palavras e a pontuação.


Outros aplicativos em Braile

Segundo notícia do site dos Correios, recentemente os cegos do Brasil passaram a dispor de um serviço postal pioneiro que lhes permite comunicar-se, por escrito, com as pessoas que enxergam. O Ministério das Comunicações e a Diretoria Regional dos Correios de Minas Gerais perceberam a importância e a necessidade de se criar o Serviço Postal Braile, que representa grande avanço na luta pela socialização dos deficientes visuais. A iniciativa valoriza a comunicação, divulgando e ampliando o acesso ao Braile.

A transcrição é realizada pela Central de Braile dos Correios, e pode ocorrer em ambos os sentidos, tinta para braile e braile para tinta. Ela inicia suas atividades com capacidade de transcrição de 1000 mensagens por mês, desde um cartão de felicitações até uma carta. O serviço é gratuito, assim como o envio para a central de transcrições. Apenas é cobrado o valor da postagem para o destino desejado, ou seja, o mesmo valor de uma correspondência normal.

As correspondências a serem transcritas deverão ser enviadas a partir de qualquer agência dos Correios de todo o Brasil, para o seguinte endereço: Av. Afonso Pena, 1270 - sala 202 - Belo Horizonte/MG - Cep 30130-971 - Central de Braile dos Correios. Os atendentes das agências estão aptos a orientar sobre esse serviço.



Fonte: Documentário sobre o Bicentenário do Braile exibido no Globo News


* O TEXTO ENCONTRA-SE EM SEU FORMATO ORIGINAL. ERROS GRAMATICAIS E DISTORÇÕES SÃO DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR.

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