terça-feira, 15 de maio de 2012

PROJETO PARCERIA, SAÚDE, EDUCAÇÃO DE SURDOS E FAMÍLIA


Por ALESSANDRA MACHADO DE SANTANA,
MARIA CRISTINA BARBOSA JUSTO,
MÔNICA GUIMARÃES ARRUDA e
VERÔNICA APARECIDA PINTO LIMA


RESUMO

Contextualizar a situação atual dos sujeitos Surdos na sociedade é uma tarefa árdua e desafiadora que somente se constrói através de múltiplas vivências na Comunidade Surda. Perceber suas peculiaridades do cotidiano e participar de sua experiência visual está sendo a mais valiosa de todas as que vivemos no mundo ouvinte. Cultura e Identidade Surdas precisam ser “enxergadas” como as grandes possibilidades de uma sociedade inclusiva em todos os sentidos. O Projeto Parceria Saúde, Educação de Surdos e Família tem como objetivo, além de valorizar a Língua Brasileira de Sinais como meio de inclusão e acessibilidade para os Surdos, proporcionar a busca constante de seu processo na construção cidadã.
PALAVRAS- CHAVE: Surdos- cultura- língua- parceria- acessibilidade


QUEM SOMOS?

O contexto social brasileiro não está afastado dos efeitos da exclusão, onde se percebe que, mesmo com a globalização, considerável parcela da população não tem acesso nem mesmo a informação sobre seus direitos, condição fundamental para a formação de cidadãos. Por este motivo acreditamos que a comunicação facilita a socialização dos direitos.

O Projeto Parceria Saúde, Educação de Surdos e Família é uma parceria entre a Saúde, especificamente na área da Fonoaudiologia, Educação e Serviço Social, abordando uma proposta bilíngue (LIBRAS como primeira língua e Português como segunda língua) para crianças, jovens Surdos e seus familiares que são recebidos no CMS (Centro Municipal de Saúde) Professor Masao Goto em Sulacap- RJ e nas salas de recursos da E.M (Escola Municipal) Frei Vicente do Salvador e E.M (Escola Municipal) Tasso da Silveira. Os Surdos atendidos são oriundos das classes comuns de diversas Escolas Públicas Municipais da E/8ªCRE/SME-RJ (Coordenadoria Regional de Educação/Secretaria Municipal de Educação), inseridas na abrangência do CAP 5.1/SMSDC-RJ (Coordenação de Área Programática/Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil).

Os trabalhos, em sua construção inicial, 2007 e 2008, surgiram da ideia das autoras (profissionais), a partir do momento que perceberam a grande necessidade de transformar o que se apresentava como dificuldade de aprendizagem e falta de comunicação, em um grande desafio a ser construído: “Um novo paradigma linguístico na educação de Surdos”.

Em 2009 passamos a contar com a participação do Serviço Social, que tem como proposta de trabalho o fortalecimento e a garantia de um “suporte cidadão”, onde as famílias das crianças e jovens Surdos que são recebidos no Posto de Saúde e oriundos das Escolas Públicas Municipais recebem orientação e apoio deste serviço para um planejamento e busca parceira, que viabilizem os recursos oportunos à melhoria na qualidade de suas vidas.

Partindo da premissa que uma abordagem Bilíngue não se desenvolve, efetivamente, sem essa parceria, as autoras atuam em conjunto, tanto nos atendimentos fonoaudiológico/serviço social, no CMS, como educacionais, em Sala de Recursos nas Escolas Públicas, mantendo contatos periódicos entre as famílias e seus filhos Surdos, com acompanhamento do processo nos dois ambientes, ofertando encontros, palestras e oficinas conforme o interesse apresentado pelo grupo (Surdos e familiares).

Ao longo desses quatro anos de projeto fomos detectando situações e necessidades e através de muito diálogo entre familiares e os Surdos, foram organizadas atividades que promovessem discussões, assim como ações que viabilizassem mudanças e harmonia nas relações entre os diferentes grupos (ouvintes- familiares/professores/amigos e Surdos- crianças e jovens), proporcionando, dessa forma, um maior desenvolvimento nas áreas linguística, cognitiva e social.

1- Algumas atividades realizadas já nos demonstram excelentes resultados:
  • Oficinas de Libras no Posto de Saúde entre familiares, crianças e jovens Surdos, professores, amigos e outros funcionários do próprio local, fortalecendo a conscientização do uso da Língua Brasileira de Sinais, assim como um maior envolvimento e interação dos responsáveis, pois a família é um elo primordial neste processo. Interessante ressaltar que é realizada uma abordagem da Língua de Sinais nos seus aspectos semânticos e contextualizados, em que as crianças e jovens Surdos aproveitam a oportunidade de se expressarem livremente abordando temas de seus interesses;
  • Oficinas de leitura e escrita da Língua Portuguesa numa perspectiva de segunda Língua. Cabe ressaltar que o termo “segunda língua” é utilizado para definir que a língua estudada é usada fora da escola em que convive a criança e o jovem Surdo (ex: um brasileiro que estuda francês na França), ou seja, nosso jovem Surdo tem sua própria Língua e cultura, e estuda a Língua Portuguesa, porque esta é usada pela comunidade fora da escola (comunidade ouvinte). Durante estas oficinas é utilizado o método AGT (Abordagem da Gramática e da Tradução). Basicamente a AGT consiste no ensino da segunda língua pela primeira. Apesar de ser um dos métodos mais criticados no ensino de segunda língua, no caso específico da clientela Surda, tem se mostrado mais apropriado devido as diferentes modalidades de input: auditivo versus visual.
  • Oficinas de Teatro entre as crianças e jovens Surdos promovendo debates de Cultura e Identidade Surdas;
  • Oficinas temáticas e roda de conversas, bimestralmente, utilizando dinâmicas de grupo, arte terapia e jogos criativos; sugerindo como ferramentas de apoio pedagógico: Youtube; Google (Maps, earth, translate); Blogs de professores; Power-point. Com o cuidado de ressaltar a grande importância da consulta minuciosa das ferramentas citadas e elaboração cautelosa, embasada em livros didáticos confiáveis, para o sucesso das oficinas. Acreditamos que esse tipo de trabalho auxiliará na construção e enriquecimento de conceitos e vocábulos de diferentes áreas do conhecimento que são de difícil assimilação para as nossas crianças e jovens Surdos, por motivos específicos em cada disciplina, com que se deparam em ambiente escolar;
  • Encontros periódicos com as famílias, professores e outros profissionais nas tomadas de decisão em relação ao cumprimento da Lei, para que as crianças e jovens Surdos possam ser acompanhados por Intérpretes Educacionais nas escolas;
  • Realização de visitas domiciliares e/ou institucionais, referentes à rede de serviços (instituições parceiras) que oferecem serviços e recursos no atendimento as famílias e outras atividades do projeto. Assim como o acompanhamento sistemático às famílias em situação de vulnerabilidade social promovendo articulações com a rede de serviços locais (governamental e não governamental);
  • Atividades culturais, de lazer e palestras com a participação da Comunidade Surda Acadêmica;
  • Atualização constante das autoras do projeto em Seminários, Congressos, Palestras e Cursos de Extensão em Tradução/Interpretação em Língua de Sinais pela APILRJ, cursos pela UFSC e outros de pós- graduação na área da Surdez;
2- Observa-se como resultado deste trabalho de parceria:
  • Um maior desenvolvimento das crianças e jovens Surdos, assim como das famílias, quanto à aquisição linguística (Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa), facilitando a comunicação e a conscientização política e social na busca dos direitos já garantidos por Lei;
  • A identificação com os seus pares Surdos buscando a compreensão de sua vivência, criando possibilidade da construção de seu próprio conhecimento;
  • A ampliação de conhecimento pelas autoras do projeto nas atividades de capacitação e melhoria da qualidade do trabalho realizado, propondo pesquisas, debate a cada encontro a fim de aprimoramento das competências profissionais;
  • A conquista das famílias, pelo Ministério Público, do direito de seus filhos Surdos, e demais alunos Surdos das escolas públicas municipais, serem acompanhados por Intérpretes Educacionais e Instrutores Surdos na rede, iniciando um processo de inclusão em relação às diferenças linguísticas e culturais do Sujeito Surdo.
3- Almeja-se conquistar com esta Parceria:
  • A continuidade do trabalho sempre em prol do desenvolvimento linguístico (Libras e Português), do conhecimento de mundo para as crianças e os jovens Surdos e suporte as famílias;
  • Espaço de sala de aula e de recursos, não excludentes, mas que respeite a diferença linguística;
  • Um currículo específico para a Educação dos Surdos de QUALIDADE;

Participar deste Projeto é o mesmo que vislumbrar, ao fim do túnel, que é possível transformar a sociedade. Que é possível aos Surdos terem os mesmos direitos que os ouvintes: saúde, lazer, educação, trabalho, moradia. Que é possível VER o Surdo como um CIDADÃO. É preciso acreditar nas capacidades das pessoas Surdas como as que podem contribuir para o desenvolvimento de seu país, respeitando sua cultura e diferenças significativas em VER e LER o MUNDO.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- QUADROS, R. Müller; KARNOPP.L.B. Língua de Sinais Brasileira. Estudos Linguísticos. Porto Alegre: Artmed.2004
- LEFFA, Vilson J. Metodologia do ensino de línguas. In BOHN, H. I.; VANDRESEN, P.
Tópicos em lingüística aplicada: O ensino de línguas estrangeiras. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1988.
- PERLIN, G. Identidades Surdas. In: SKLIAR.C. ( Org). A surdez um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre. Editora Mediação, 1998.
- REPÚBLICA, Presidência da Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Brasil. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
- QUADROS, R. Müller, STUMPF, M. Rossi. Estudos Surdos. Petrópolis, RJ: Arara Azul, 2009.



FONTE: http://editora-arara-azul.com.br/



* O TEXTO ENCONTRA-SE EM SEU FORMATO ORIGINAL. ERROS GRAMATICAIS E DISTORÇÕES SÃO DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR.

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