terça-feira, 1 de maio de 2012

SYLVIA LIA GRESPAN NEVES, ESCRITORA SURDA

Diego Rousseaux

Há dez anos a pedagoga e escritora Sylvia Lia Grespan Neves, que é surda, responde a perguntas e curiosidades sobre a própria vida. Admiradora de romances, ela nunca leu uma história como a dela retratada em uma personagem com deficiência auditiva. Da mescla dessa vontade somada ao desejo de esclarecer dúvidas a respeito de sua vida, Sylvia escreveu "Mãos ao Vento", uma produção independente que começou a criar quando pensava no seu trabalho de conclusão de curso. 

Hoje, a pedagoga, além de aluna do curso de Letras-Libras da Universidade Federal de Santa Catarina, é professora da disciplina Língua Brasileira de Sinais da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e do curso de Hotelaria do Senac.

Sylvia também é autora "De Sinal em Sinal", uma publicação voltada para os surdos, no entanto, trata-se de um livro didático. Em "Mãos ao Vento", ela mostra a vida por meio do ponto de vista dos surdos, com seus anseios e sensações. A história se passa em uma praia onde a garota Paola, com deficiência auditiva, conhece Raul e eles começam a se envolver e descobrir seus universos.

Sentidos: Como surgiu a ideia do livro?
Sylvia:
Sou leitora devota de romances. Em todos que li sempre encontrei personagens bastante representativas: mulheres bonitas, loiras de lábios carnudos, morenas sensuais, dentre outras. Um fato era comum entre elas, todas eram ouvintes. Sempre me questionava o motivo de não haver personagens surdas nas histórias. Durante a graduação em pedagogia, pesquisei a cultura surda e realizei o trabalho de conclusão de curso sobre o tema. Sempre quis publicá-lo, e desde 2002, quando conclui o curso, me angustiava ver esse trabalho guardado no computador. Então recortei algumas partes da história e acrescentei no romance.

Sentidos: Como foi a pesquisa para escrevê-lo?
Sylvia:
A pesquisa foi realizada para o trabalho de conclusão do curso de pedagogia, entrevistei muitas pessoas com deficiência auditiva perguntando sobre aspectos culturais e as diferenças entre surdos e ouvintes. Depois de reler vários romances para entender como o diálogo se constrói nesse gênero e como construí-los pensando na Libras, usei uma regra para identificar as falas dos personagens. Para Libras usei palavras em itálico, significa que os personagens estão sinalizando. Palavra sem itálico significa que estão falando. Já para os casos em que a fala se manifesta pela escrita, utilizei o negrito.

Sentidos: O quanto sua trajetória de vida influenciou os personagens do livro?
Sylvia:
Muitas histórias da minha vida estão registradas no livro, mas há amigos meus que inspiraram o romance também. Para não focar apenas na história de uma pessoa, optei mesclar a minha com a de amigos surdos e, a partir disso, criei os perfis dos personagens. A narrativa é baseada em fatos reais e, embora os nomes dos personagens sejam fictícios, emergem marcas de histórias de pessoas comuns que inspiraram esse romance.

Sentidos: Qual o objetivo do livro?
Sylvia:
É mostrar alguns aspectos da cultura surda, com personagens com deficiência auditiva, ouvintes e intérpretes de Língua Brasileira de Sinais. Mostrar o mundo dos surdos e também as relações de conflitos possíveis que se estabelecem entre surdos e ouvintes. Esse livro pode ser aproveitado em cursos de ensino de Libras, para discutir culturas e a identidade surda. Os professores de Libras e Língua Portuguesa também podem trabalhar os tópicos com adultos com deficiência auditiva. É também uma publicação para familiares de surdos e interessados em geral. Elaborei as respostas com objetivo de esclarecer dúvidas que partem dos ouvintes. Há muitos outros livros que falam sobre a cultura surda, mas são de gêneros acadêmicos com uma leitura direcionada para estudiosos da área. "Mãos ao Vento" possibilita a leitura de qualquer pessoa que gosta de romances, seja ela surda ou ouvinte.

Sentidos: Recentemente, a Coleção Pimpolho lançou livros que recontam histórias de conto de fadas a partir da cultura surda. Você acredita que o mercado pode voltar sua atenção para esse tipo de livro?
Sylvia: Acredito que sim. Acho uma excelente ideia. Pode trazer benefícios, como o apoio para os surdos compreenderem melhor as histórias, a partir de uma representação escrita da própria língua de sinais. Porém, acho que o investimento poderia ser voltado também para a produção de vídeos com gravação em Libras dessas histórias
fonte: http://revistasentidos.uol.com.br/
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