quinta-feira, 2 de junho de 2011

DENÚNCIA: SOU IRMÃO DO COLLOR

 

O ex-presidente Fernando Collor de Mello, hoje senador pelo PTB de Alagoas, está nova­mente às voltas com a Justiça. Desta vez, por motivos bem diferentes daqueles que o levaram a deixar o Palá­cio do Planalto pela porta dos fundos, acusado de corrupção. A razão da dor de cabeça, agora, é um processo movido por Amaury Cícero de França, morador da periferia de Brasília que tenta provar que é seu irmão. A ação corre em segredo e já tem mais de 400 páginas. Na tar­de do último dia 25 de abril, Collor re­cebeu a mais recente intimação. A or­dem judicial foi entregue em seu gabi­nete, no 13° andar do Senado. A juíza do processo quer que Collor se submeta a um exame de DNA. O teste pode, com 99,9% de certeza, determinar enfim se Amaury terá ou não o direito de carre­gar o último sobrenome do ex-presiden­te e, junto com ele, um naco da fortuna da família, calculada em mais de 50 milhões de reais. Com a pose de sempre, Fernando Collor evita o assunto, e tem descumprido sistematicamente as or­dens da Justiça. Já deixou de atender por três vezes à determinação para que fosse ao instituto de perícias da Polícia Civil brasiliense recolher material bio­lógico para o exame. Mesmo assim, Amaury não perde a esperança.


Funcionário terceirizado do Minis­tério das Comunicações, onde dá expe­diente como auxiliar administrativo, Amaury afirma ser filho do pai de Fer­nando Collor, o ex-senador Arnon de Mello, morto há 28 anos. Foi na campa­nha vitoriosa de Collor à Presidência, em 1989, que ele soube do possível pa­rentesco. Surdo, o rapaz, com 14 anos na ocasião, entendeu por leitura labial o que um primo dissera na sala ao ver Collor na televisão: "Esse aí é irmão do Amaury". O garoto pôs-se, então, a le­vantar informações sobre sua história. repleta de incógnitas - em sua certidão de nascimento, o campo destinado ao nome do pai sempre estivera em bran­co. Amaury começou, por óbvio, inda­gando a mãe. Aos poucos, a aposentada Jacy de França Meira foi contando o que até então escondia. A história é a que sustenta o processo que Amaury move para ser reconhecido como irmão de Fernando Collor.


Também alagoana, Jacy diz que te­ve um romance com Arnon de Me1lo nos tempos em que ele era senador. Ela trabalhava como telefonista da Tele­brasí1ia, a estatal que servia à capital, e fazer uma ligação naquela época tinha lá suas dificuldades. Para completar um interurbano, era preciso recorrer à central. Num belo dia de 1974, conta Jacy, o telefone tocou e era o senador Arnon pedindo uma ligação. A rápida conversa, diz ela, rendeu cinco encon­tros. "Dessa relação nasceu o Amaury", afirma. A ideia de pedir à Justiça o re­conhecimento da paternidade surgiu quando Collor era presidente, mas le­vou um tempo para ser posta em práti­ca. A ação foi ajuizada apenas em 2006, com a ajuda da defensoria pública, porque a famí1ia não tinha dinheiro para pagar advogado. Além de requerer o teste de DNA, Amaury lista sete tes­temunhas da suposta relação amorosa entre sua mãe e o pai de Fernando Collor. Religioso, ele nega estar inte­ressado em dinheiro. Mas, se for reco­nhecido, terá direito a parte do peque­no império que o falecido senador Arnon deixou. A fortuna inclui imóveis e o maior conglomerado de comunica­ção de Alagoas. Assim como Collor, seus três irmãos arrolados na ação têm se negado a fazer o exame. A Justiça pode entender a recusa como admissão de que as alegações de Amaury têm fundamento.


Enquanto a decisão não sai, Amaury, hoje com 36 anos, vai levando sua vida humilde. Ele ganha salário de 1.000 reais e mora num puxadinho de 12 me­tros quadrados no Paranoá, cidade-saté­lite de Brasília distante 6 quilômetros da lendária Casa da Dinda, onde Collor voltou a viver após se eleger senador. Procurado por VEJA, o ex-presidente ouviu calado e indiferente as perguntas sobre o processo. Com dificuldades de fala, Amaury amacia quando se refere ao suposto irmão, mas não muito: "Eu gostava dele quando era presidente, de­pois passei a não gostar quando ele fez coisas erradas, mas agora acho que ele está mudando para melhor". Será?


FONTE: VEJA, 01/06/2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário